Uma abordagem sobre raça, Zebu e Gir por Ivan Ledic pesquisador
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Publicado em 16/08/2017 às 08:17:57
- atualizado em 16/08/2017 às 08:39:47
VISANDO ACLARAR DEFINIÇÕES E BUSCAR RESPOSTAS DO QUE SÃO RAÇAS E PUREZA RACIAL, consultamos a literatura, onde geneticistas e biólogos discutem esse assunto. As divisões da taxonomia dos seres vivos tentam descrever através da filogenia o princípio darwiniano de ascendência comum, para se chegar até a espécie animal. Segundo a teoria da evolução, nas espécies sexuadas, um conjunto de indivíduos geneticamente idênticos, que poderiam ser considerados raças puras, não existe e nunca existiram.Por: Ivan Luz Ledic- Pesquisador PhD - Diretor FICEBU
Em uma espécie animal sempre ocorreu migração de genes por acasalamentos entre grupos, famílias e variedades em seu habitat natural. No passado, alguns grupamentos ou manadas, por isolamento geográfico e adaptação ao meio ambiente, desenvolveram aparência ou tipo definido, mas ainda assim com variação individual e com genes advindos de diversos tipos da população da espécie que lhe deu origem.
Assim, em biologia, os zoólogos geralmente consideram 'raça' um sinônimo das subespécies, caracterizada pela comprovada existência de linhagens distintas dentro das espécies. Segundo a FAO, é um termo mais cultural que técnico.
Em seus primeiros estágios, todas as raças têm um centro geográfico de origem onde 'determinados animais se assemelham' e, após a domesticação, os criadores desenvolveram seleção e comercialização desse chamado agrupamento biológico. Através de meticuloso registro de pedigrees se tenta isolar esses animais e evitar a migração de genes de outros animais da população.
Isso posto, para fins práticos, uma população é uma 'raça' quando:
1. Tem características que a identifique e/ou;
2. Tem uma associação formal de criadores e/ou;
3. Quando uma entidade ou governo afirma que ela é.
Dessa forma, podemos dizer que 'raça puro sangue' é aquela que tenha uma história antiga, com documentação de seus pedigrees em livros genealógicos.
Mesmo quando consideradas raças, podem ocorrer desacordos sobre o tipo ou sobre a finalidade dessas. Esse desentendimento pode transformar-se em uma nova divisão sobre padrões da raça e a população, então, pode subdividir-se novamente em dois ou mais subgrupos com coesão própria. Nem por isso, eles deixarão de ser a mesma 'raça' e de serem considerados 'puros' na visão de inventário das descrições de pedigrees.
DESSA FORMA, A CONCEITUAÇÃO DE RECURSO GENÉTICO nos conduz a uma reflexão mais profunda DO QUE FALAR EM RAÇA. Recurso sim, em todas suas formas linguísticas, seja como alternativa, auxílio, remédio ou mesmo, patrimônio.
Confirmando isso, dentro da teoria monofilética e dos estudos recentes de DNA mitocondrial, utilizando fósseis e animais viventes, indicam que o extinto Auroque ou Uru (Bos primigenius) é considerado o ancestral silvestre ou o precursor de todo o gado doméstico, tanto taurino como zebuíno.
Os fósseis mais antigos de Auroques têm cerca de 2 milhões de anos e foram encontrados na Índia, na região do deserto de Thar, mas existiam também em Gujarat, área de Ganges e Karnataka. Portanto, as subespécies indianas foram as primeiras originadas do Bos primigenius.
Durante o Pleistoceno e começo do Holoceno os Auroques migraram para o Oriente Médio, para a Ásia e Europa à cerca de 270 mil anos atrás, quando ocorreu a diversificação entre o Bos primigenius primigenius (taurus) e o Bos primigenius namandicus (indicus), interpretada como evidência de dois eventos de domesticação separados, à cerca de 10 mil anos atrás (no período Neolítico).
Um dos eventos deu origem aos taurinos e aconteceu no Oriente ou Sudoeste da Ásia, na região da Turquia, Síria, Líbano, Jordânia, Chipre, Israel, Iraque e Palestina, entre o mar Mediterrâneo e o Irã. O outro evento ocorreu no Baluquistão (hoje Paquistão), dando origem aos zebuínos.
O Auroque foi descrito na Bíblia e era usado pelos romanos como um bovino de batalha em arenas. O Auroque foi extinto em 1627, quando uma fêmea morreu na reserva florestal de Jaktorów, Polônia. Seu esqueleto é propriedade do Museu Livrustkammaren em Estocolmo, Suécia (Figura 1).
Figura 1 – Esqueleto do último Auroque (Bos primigenius)
A história do povo indiano é das mais antigas do mundo. Remonta 8.000 anos. Dentre as muitas coisas que se falava naquela época, a religião era uma delas. A crença em algo superior.
O Hinduísmo tem preceitos que foram transmitidos de forma oral entre gerações e depois descrito, em 1.500 A.C., em 4 obras sagradas do Vedas (Rig, Sama, Yajur, Atharva), CONSIDERADO A MAIS ANTIGA DAS ESCRITURAS DA HUMANIDADE COMO COLETÂNEA DE TEXTOS RELIGIOSOS. No hinduísmo, por não ter um fundador exclusivo ou comum, não existe um sistema único de salvação, sendo uma das religiões das mais complexas e talvez fosse melhor falar em conjunto de concepções do que propriamente dogmática.
A fé dos hinduístas tem uma base filosófica dividida em Dharshanas (pontos de vistas) e a determinação de onde termina a lógica e começa o imaginário é difícil. São normas de vida bastante diversas e não raro contrastantes umas com as outras. Portanto, não se pode falar em uma teologia sistematizada. Não tem uma só forma de crenças ou mesmo uma instituição que zele pela ortodoxia. Cada guru ensina à sua maneira. Talvez um ponto em comum seja o fato de todas as escolas hinduístas crerem na reencarnação.
Apesar da inegável multiplicidade, o hinduísmo não é tão politeísta quanto aparenta. Muitos ocidentais pensam assim sobre o assunto, e isso é tão leviano como concluir, olhando para o santoral cristão, que o cristianismo é uma religião com vários deuses. Adhinatha é divindade máxima e se manifesta na trindade Brahma, Vishnu e Shiva.
Os Vedas comentam a fertilidade dos animais como parte integrante da vida e tem raízes tradicionais profundas associadas a várias divindades. Outra escritura hinduísta fundamental, o Manusmriti, compilado por volta do século I A.C., enfatiza a importância da vaca para o homem. Nos séculos seguintes, foram criadas leis elevando gradualmente o status religioso bovino.
Então, dentro do nosso tema, uma primeira evocação à Kamadhenu, descrita na religião hindu como a mãe de todas as vacas. É considerado um animal perfeito, pois existe desde a época do paraíso (chamado de Satyuga).
INCRIVELMENTE ISSO CONSTATA COM OS ESTUDOS ATUAIS DA ORIGEM BOS TER OCORRIDO NESSE CONTINENTE, CONFORME JÁ DESCRITO SOBRE O AUROQUE.
Kamadhenu é a "vaca da abundância" milagrosa, que fornece ao seu proprietário tudo o que ele deseja, e é, muitas vezes, retratada como a mãe de todos bovinos. Na iconografia, uma vaca branca com uma cabeça e tronco de mulher sobre um corpo bovino ou como uma vaca branca contendo várias divindades dentro de seu corpo (Figura 2). Todas as vacas são veneradas no hinduísmo como a encarnação terrena de Kamadhenu.
Figura 2 – A mãe de todas as vacas – Kamadhenu
Embora a maior parte dos hindus venere a vaca como o último estágio de reencarnação do ser humano antes de chegar à divindade, não existe templos para sua adoração, como ocorre com os ratos, serpentes, elefantes e macacos, também considerados encarnações de humanos. Segundo seus preceitos é nesses animais que a divindade costuma se manifestar. Embora a vaca seja sagrada para os hindus, ela não é exatamente adorada por todos como uma divindade, entretanto no 12º dia do 12º mês do calendário hindu, um ritual à vaca é realizado no palácio de Jodhpur, no estado de Rajastão.
A vaca possui um papel importante na sociedade hindu como melhor representação da benevolência de todos os animais perante o homem e a religião hindu proíbe a matança e maltrato desses animais. Isto aconteceu provavelmente porque o povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos, fezes e urina para combustível e fertilizante, que o seu status de "cuidadora" espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura quase maternal.
De outro lado a vaca é associada a Krishna ("um avatar" da manifestação de Brahma, Vishnu e Shiva), o qual era um vaqueiro. O touro Nandi é descrito como seu meio de transporte e é símbolo de todos bovinos machos. Nandi é o touro branco que o acompanha, é sua montaria e seu mais fiel servo. Nandi está associado às forças telúricas e à virilidade (FIGURA 3). Os locais sagrados de Nandi, em Madurai e o templo de Shiva em Mahabalipuram, no estado de Tamil Nadu, são os mais venerados santuários bovinos. O Templo Vishwanath de Jhansi, construído em 1002, em Khajuraho, estado de Madhya Pradesh, também tem uma grande estátua do touro Nandi.
Figura 3 – Krishna e seu touro Nandi
UM FATO: OS GRANDES RESPONSÁVEIS PARA QUE O MUNDO CONHECESSE O GADO ZEBU E OS BÚFALOS INDIANOS FORAM OS INGLESES, durante o tempo que colonizaram a Índia. Enviaram exemplares das duas espécies para zoológicos e fazendeiros em várias partes do mundo. Posteriormente esses animais mostraram que não eram espécies puramente curiosas, mas produtivas.
Entretanto, desde a colonização inglesa, o Zebu (principalmente o Gir) na Índia tem sido cruzado com raças exóticas através do programa executado pelo Coordinated Research Project Cattle. O grande objetivo desse mega programa é desenvolver mestiços apropriados para produzir leite naquelas condições de ambiente.
A Índia tem o maior rebanho bovino e bubalino e é o país maior produtor de leite no mundo, com um esquema cooperativo (National Cooperative Dairy Federation of India), com 76 pequenas cooperativas interligadas e 11 milhões de produtores membros, estabelecida nos anos 30. Esses animais estão em Centros do governo indiano ligados ao NDDB.
Na cidade de Anand, no estado de Gujarat, existe uma cooperativa de nome AMUL (Anand Milk Union Ltd.), no distrito de Kaira. Nessa cooperativa de AMUL micro produtores levam, desde uma, duas, três ou mais garrafas de leite para vender e recebem no mesmo dia o dinheiro para auxiliar no sustento da família. Algo fantástico, extraordinário e admirável (FIGURA 4).
Figura 4 – Cooperativa de AMUL, onde milhares de micro de produtores levam leite todos os dias (foto: Ivan Ledic no escritório de Alvaro Restrepo, na Colômbia)
O problema é que na Índia não existe criação pura de bovino, por não haver Sociedades de Criadores com Herd Book. Os bovinos na Índia ficam perambulando pelas ruas e estradas, sem controle zootécnico de suas genealogias, duvidoso quanto à qualidade por falta de provas de desempenho.
Apesar disso, atualmente em Sabarmati Ashram Gaushala, administrada pelo National Dairy Development Board (NDDB), existe uma central com laboratórios para congelamento de sêmen e trabalhos em embriões, para distribuição em massa aos sócios das grandes cooperativas.
Observa-se, entretanto, no catalogo o enorme desinteresse pelas raças nativas indicus. Esse catalogo da Entidade oferece 90 reprodutores, dos quais 36 touros (40%) são búfalos de diferentes raças e/composições; 23 touros (26%) são Bos taurus (12 Holstein e 11 Jersey); 26 (29%) são touros mestiços F1 ou compostos (indicus x taurus); os indicus são 5% do total (2 touros Gyr; 1 touro Rede Sindi; 1 touro Sahiwal e 1 touro Kankrej).
Como uma previsão, num artigo titulado Losing Native Breeds (InfoChange News & Features, nov. 2007), sobre biodiversidade e recursos genéticos da Índia, o autor Devinder Sharma, expressa sua grande preocupação pela extinção das raças nativas em seu país por cruzamentos indiscriminados com raças taurinas. Em sua conclusão expressa, como interrogante: "Será que a Índia vai terminar importando do Brasil suas mesmas raças nativas (Gir, Guzerá, Nelore) que uma vez, faz anos, exportou a esse país de Sul América?"
Desta forma, o Brasil pode ser considerado atualmente o guardião de toda essa genética Zebuína que se encontrava na Índia.
Quanto ao Gir na Índia, alguns foram preservados. Muitos se encontram isolados nas Gaushalas, a maioria no estado de Gujarat e alguns em Rajastan, onde monges têm cuidado da raça como entidade sagrada e alguns Marajás mantiveram seus plantéis, alguns selecionados desde 1660.
Existem também algumas Instituições Filantrópicas tradicionais que foram criadas nos idos de 1800 para abrigar e cuidar de animais velhos e doentes, muitos deles da raça Gir. Atualmente desenvolvem atividades de distribuição gratuita de leite e animais nas aldeias.
O Indian Council of Agricultural Research (ICAR), por sua vez, iniciou dois projetos com rebanhos Gir, um coordenado pelo National Bureau of Animal Genetic Resources (NBAGR) para conservação da raça e o outro pelo Project Directorate on Cattle (PDC) para melhoramento genético da raça. O Animal Husbandry Department iniciou também um programa de melhoramento genético de animais Gir, onde tourinhos são testados pela progênie.
O Institute for Research and Development of Dairy Cattle Breeding Farm, em Kadivali, Bombay, fundado em 1887, além de diversas cooperativas espalhadas por toda Índia, coordenadas pela Milk Produce Union Ltd. - Uttan Dairy, em Gomtipur, Ahmedabad, estão também criando animais da raça Gir.
Em Junagadh o governo indiano também mantém um rebanho Gir com controle leiteiro em ordenha mecânica. O Instituto Panchavati & Panjrapol, em Nasik, estado de Maharastra, fundado em 1879 para preservação da vaca sagrada, possui um rebanho Gir selecionado para produção de leite desde 1920.
Os Rabaris, Bharwads, Maldharis, Ahirs e Charans, em suas tribos, estão envolvidos também com a criação de Gir. Eles partem com os seus animais de um lugar para outro em busca de pasto que está disponível em pastagens de julho a dezembro - depois migram novamente para os bairros adjacentes às cidadesWeaning of the calves (Figures 2 and 3) has not been practised and milking cows, new born calves and bullocks are not sent for grazing in villages. (FIGURA 5).
Figura 5 – Animais Gir na Índia
E mais, como me relatou o criador indiano Pushpendra Prasad: "Agora é um orgulho brasileiro vocês terem o Zebu em seu país. Ao olhar essas fotos dá para sentir-me orgulhoso - esse gado Gir Leiteiro brasileiro carrega genes da Índia. Estamos orgulhosos de que vocês, Mr. Ivan e outros, conservaram estas pedras preciosas."
CABE DESTACAR QUE ATUALMENTE A ÍNDIA ESTÁ IMPORTANDO O GIR LEITEIRO DO BRASIL OFICIALMENTE, VISANDO ADIANTAR O PROCESSO DE MELHORAMENTO DA RAÇA EM SEU PAÍS.
AS COMPARAÇÕES E AFIRMAÇÕES ANTERIORES NÃO DESQUALIFICAM O GIR DA ÍNDIA. AO CONTRÁRIO, SÃO CONSIDERADOS COMO UM RECURSO PRIMÁRIO DA PECUÁRIA TROPICAL, COMO FONTE DE "LINHAGENS".
Na Índia existem sim alguns "indivíduos de cúpula", mas o grande problema é identificá-los com confiabilidade. Nos últimos anos controles leiteiros têm sido efetuados em alguns desses locais e atualmente existem informações mais consistentes quanto ao potencial de produção dos animais, permitindo identificação das genealogias quanto aos índices de produção. Indiscutivelmente se identificam indivíduos, vacas e touros Gir, que poderiam ser considerados como de qualidade zootécnica superior, mas não rebanhos provados sobre sistemas modernos de avaliação confiáveis, em comparação ao material Gir Leiteiro brasileiro provado.
As diversas comitivas de criadores e técnicos brasileiros que estiveram na Índia identificaram alguns animais Gir com potencial leiteiro, existindo pedigrees de mais de 200 anos, todavia sem nenhuma pressão de seleção para leite. A maioria desses animais está em Templos com certas prescrições religiosas que revestem de cunho divino descendentes de certas famílias de Zebu. Alguns criadores brasileiros têm selecionado animais Gir nessas localidades para coleta de sêmen e embriões visando importação para o Brasil com a finalidade de aumentar a variabilidade de nossa população de Gir Leiteiro. O líder espiritual de Gondal, Acharya Ganshyamji, além do técnico indiano, Pradipsing, executam compras de animais Gir para criadores brasileiros, criando-os e executando coleta de sêmen e embriões.
O ZEBU NO BRASIL
Antes da descoberta, em 1500, o Brasil nunca teve nenhuma raça bovina ou bubalina nativa, as quais foram trazidas pelos portugueses, a maioria de origem ibérica.
Os primeiros zebuínos chegaram ao Brasil há pouco mais de 100 anos e contribuiu para o País ter o maior rebanho comercial do mundo.
Os primeiros exemplares introduzidos a Brasil chegaram provavelmente ao redor de 1898 e 1903, pelas importações efetuadas por Teófilo de Godoy.
Outras importações da Índia foram sumamente importantes. Em 1918 Francisco José de Carvalho, João Martins Borges, Virmondes Borges e Octaviano Borges Jr foram à Índia e compraram animais de várias raças. Em 1930 Manoel de Oliveira Prata e Ravísio Lemos também importaram animais da Índia. Em 1956, o criador Joaquim Machado Borges importou junto com Paulo Roberto Cunha 114 cabeças. Posteriormente, em 1958, Celso Garcia Cid conseguiu licença do governo federal para introduzir o Zebu indiano. A última importação da Índia se deu também em 1962, pelos criadores Celso Garcia Cid, Torres Homem Rodrigues da Cunha, Rubens de Carvalho, Nenem Costa e Jacinto Honório da Silva.
Em 1919 foi fundada a Sociedade Herd Book Zebu para registrar os animais. Em 1934 se fundou a Sociedade Rural do Triângulo e em 1967 fundada a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).
O Brasil atualmente é o grande exportador de tal genética para todas as partes do mundo e o maior divulgador dos benefícios do uso de um gado dito "abençoado" em sua origem. É também o maior exportador de carne do mundo e proprietário do maior rebanho comercial, com mais de 200 milhões de cabeças, cujo efetivo tem mais de 80% de composição zebuína.
A ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) é uma associação que congrega criadores das raças zebuínas no Brasil, considerada a maior entidade do gênero no planeta, tendo mais de 20.000 sócios. É atualmente uma referência no programa de melhoramento genético das raças zebuínas. Quase duas centenas de técnicos estão nas fazendas e escritórios por todo território nacional fazendo registros, coletando dados e participando de provas zootécnicas.
Quando ao padrão racial do Gir no Brasil, alguns criadores formaram 'seus biótipos ou linhagens' próximos daquilo que gostariam de fixar em seus animais e/ou rebanhos, sendo originado aquilo que se poderia dizer - o tipo de GIR BRASILEIRO, inclusive não sendo permitido a pelagem negra.
CONFIRMANDO ISSO, SOBRE O PADRÃO RACIAL DO GADO GIR NO BRASIL EM RELAÇÃO AO DO GIR INDIANO, ESSA É A REALIDADE:
Com relação ao padrão racial brasileiro do Gir em referência ao indiano, a literatura relata que tudo teve seu início com Rodolfo Machado Borges, em 1940, quando um aluno de um internato, Jarbas Pereira Maia, trouxe para o Rodolfo, um recorte do Jornal Diário de São Paulo, onde estava reproduzida uma reportagem sobre o gado Gir com o relato de um jurado inglês que havia julgado em Calcutá.
Esse jurado teceu comentários sobre o Gir e suas variedades de tipos em consonância com as regiões que provinham. Para cada tipo analisado identificava diferenças visuais entre um e outro. Afirmam os biógrafos de Rodolfo, que ao ler o artigo disse: "Menino, você acaba de me dar mais de 10 mil contos de réis. Vou agora mesmo para a fazenda e fazer a separação do gado de acordo com esses tipos e traçar um novo rumo para a seleção".
Observou então que havia vários tipos diferentes entre si, notadamente nos machos. E dentre estes, identificou o touro Bey como o mais próximo do ideal da raça Gir, como um animal de tração: pernas altas, passos largos, índole viva e um autêntico animal de tiro. Para a realidade brasileira, observou que esse animal precisava de peito, chanfro e cobertura de carne na paleta sendo que o touro Martelo possuía essas características. A orelha ideal era a do touro Indu e o gavião era de Banjo - desta forma estava definido o tipo da cabeça ideal.
Com Evaristo Soares de Paula foi diferente. Identificou todas as qualidades da raça no touro White e com ele trabalhou a consanguinidade na marca EVA. Outro genearca que fez história foi o touro Krishna (Priyatan x Sakina 44) importado por Celso Garcia. A partir desses animais (Bey, White, Krishna importado) multiplicaram-se pelo país os escultores da raça.
Outros criadores também fizeram o mesmo em seus rebanhos. Um animal JZ (José Zacharias Junqueira) era inconfundível; o mesmo diria com relação ao Zeid, Ene Sab, Aderbal Góes, dentre tantos.
Esse padrão de beleza, adorado por uns e criticado por outros, é uma construção brasileira. E esses criadores/selecionadores tiveram seus admiradores, diria mais, seguidores.
DE OUTRO LADO, NA PRÓPRIA ÍNDIA O GIR TAMBÉM TEM 4 DESIGNAÇÕES OU 'TIPOS', conforme o Institute for Research and Development of Dairy Cattle Breeding Farm, em Kadivali, Bombay:
MORVI; BHAVNAGAR; JUNAGHAR E GONDAL, com diferenças nas pelagens (inclusive de cor preta, conhecido como vacas Kapila, conforme me escreveu o criador indiano Saradananda Mishra), espessura da pele, forma dos chifres, tamanho da cabeça, tamanho e forma da orelha, estrutura das pernas, mas também na capacidade de ordenha, a origem e os hábitos. O tipo mais leiteiro é o Junaghar, seguido do Bhavnagar, Morvi e Gondal.
OBS.: Cabe destacar que na própria Índia, pelo falta de troca de material genético entre os que criam Gir nos conventos e palácios, cada um tem um biótipo diferenciado do outro, pois não há intercâmbio de animais, nem sêmen e embriões, o que torna os animais diferentes em pelagem, tamanho, caracterização racial, etc de acordo com a região ou local de criação.
No Brasil não foi diferente e posteriormente a divisão foi pelo critério de seleção, Leite ou Carne ou ainda Padrão ou Dupla Aptidão, com biótipos diferentes. Isso em nada altera o fato de serem Gir, apenas os dividiram em categorias de produção distintas.
REALMENTE O NOME PADRÃO NÃO SIGNIFICA NADA E É UM ERRO QUE DEVE SER CORRIGIDO, porque todos estão com o registro efetuado pela ABCZ, portando dentro dos critérios estabelecidos para a raça.
Nenhuma das Associações do Gir no Brasil (ABCGIL ou ASSOGIR) desrespeita os padrões raciais, que são estabelecidos pela ABCZ, que é a Entidade credenciada pelo MAPA a executar o RGN e RGD.
No caso do Gir Leiteiro, para ter esse adjetivo, a ABCZ em seu estatuto, tem uma classificação para o Gir submetido ao Controle Leiteiro Oficial, de no mínimo, 2.100 kg em 305 dias de lactação ou 2.500 kg em 365 dias de lactação.
Diante do exposto, qualquer criador que tenha Gir com RGD está apto a participar das duas Associações, e, democraticamente, através de solicitação, poderá propor algo que julgue ser pertinente à raça, inclusive ao quesito padrão racial, que será votado em Assembleia Geral.
Os regulamentos são esses e o norte cada criador deve buscar dentro daquilo que pretende para seu rebanho.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU