Breve evolução das raças zebuínas no Brasil - Parte 1
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Publicado em 11/09/2017 às 14:16:55
Desde sua entrada no Brasil as raças zebuínas evoluiram muito geneticamente. De acordo com a demanda de cada época, que poderia ser de animais de tração até animais para exposições, os fazendeiros foram selecionando seus animais de forma intuitiva. Assim as caracteríticas que achavam ser as melhores para os seus propósitos direcionava a seleção no curral. Quando os pesquisadores da área de zootecnica começam a introduzir as provas zootecnicas de ganho em peso e leite, inicia-se então uma outra etapa que levaria o Zebu a sua excelência em adpatação e produtividade dos dias atuais.Este breve conteúdo apresentado aqui mostra a evolução dessas características que foram mudando ao longo das décadas. O acervo de fotos do banco de dados da ABCZ mostra bem como isso foi evoluindo, através dos fenótipos dos animais.
Os primordios da bovinocultura ( 1870 a 1925)
Segundo Lopes e Rezende (2001) em 1534 os primeiros animais bovinos foram trazidos de Portugal por Dona Ana Pimentel, esposa e procuradora do donatário Martins Afonso de Sousa, para a Capitania de São Vicente.
Foram ao todo oito vacas e um touro, porém existem controvérsias apesar de vários historiadores afirmarem que estes vieram do Arquipélago de Cabo Verde, possessão portuguesa na costa da África. Duarte de Souza, um ano depois, importa bovinos para a Capitania de Pernambuco, e estes se reproduzem e formam o primeiro rebanho brasileiro significativo.
Os portugueses necessitavam de gado para o trabalho na lavoura e mesmo para alimentação e traziam estes animais do Reino e das colônias que possuíam na África e na Ásia. Estes primeiros animais oriundos da África, juntamente com as importações de gado indiano da raça Zebu, cruzaram com as raças nativas do Brasil e deu origem aos tipos nacionais como o gado Malabar e Guademar (SANTIAGO, 1984).
O primeiro núcleo de Zebus puros oriundos da Índia no Brasil foi estabelecido por D.Pedro I, em 1826, na Fazenda Real de Santa Cruz, perto do Rio de Janeiro, dando, assim, origem ao mestiço zebuíno "China" que foi difundido pelo Brasil Central. Após este período verificou-se algumas importações de animais tanto de raças zebuínas quanto de européias nos anos de 1850, 1854, 1878 e 1887 (LOPES e REZENDE, 2001).
Para Lopes e Rezende (2001), existem duas fases distintas na introdução do gado zebuíno no Brasil. Num primeiro momento o processo é ocasional, pois os colonizadores necessitavam de animais apenas para a lida e para o consumo, e em outro momento dirigido pelo interesse pelas raças indianas que se adaptavam bem ao clima tropical e seus cruzamentos com o gado oriundo da Europa que resultavam em animais com boa adaptação ao nosso clima.
Por volta dos anos 1854 a 1856 os "barões do café " dominavam o cenário brasileiro, porém, após 1870, as lavouras paulistas e fluminenses começaram a entrar em decadência e aos poucos os cafeicultores foram se transformando em criadores de gado ou aliando as duas atividades (LOPES e REZENDE, 2001).
Segundo Santos (2007), por volta de 1860 já não havia terras disponíveis para produção de café no interior do Rio de Janeiro e os produtores passaram a explorar as encostas de morros e montanhas da região, como Nova Friburgo, Cordeiro, Cantagalo, Teresópolis, entre outros.
O transporte era difícil e utilizavam-se tropas de burros que eram comprados em Minas Gerais, muito longe de onde estavam. Os bovinos criados eram de origem européia como o Holandês ou o Caracu, oriundo da China, e eram animais sem condições para trabalhos em montanhas e não eram adaptáveis ao clima quente e úmido do estado.
A preferência para o tipo de criação penderia para o mestiço Zebu, mais rústico e resistente. Começa assim o interesse também de grandes proprietários de terra pela importação de animais de raças indianas.
Segundo Lopes e Rezende (2001), no ano de 1898 deram-se o início das importações feitas pelos fazendeiros do Triângulo Mineiro com uma diferença marcante: ao contrário dos demais compradores de zebu que adquiriam seus animais por meio de casas importadoras, eles próprios iam buscar os animais na Índia. Homens por vezes simples de conhecimento e que viviam em sertões rudes e distantes de grandes capitais.
Nos anos de 1907-1908, numa iniciativa pioneira, o governo mineiro, sob a presidência de João Pinheiro, incentiva e oficializa as importações de gado Zebu. Por volta de 1910 e 1912, representantes dos criadores mineiros na Câmera de Deputados já lutavam para estabelecer facilidades e auxílio às importações. Tempos difíceis, pois as viagens eram realizadas durante a Primeira Grande Guerra Mundial, quando o governo britânico controlava os meios de transportes e colocavam obstáculos às importações do gado (LOPES e REZENDE, 2001).
A pecuária de corte, à custa da guerra, nunca havia evoluído tanto e os frigoríficos abriam suas plantas e os negócios prosperavam. Neste período começou-se a praticar a técnica de seleção que iria surgir mais tarde como ciência dentro do melhoramento zootécnico mundial - onde se tentava fixar as raças zebuínas Guzerá e o Nelore. Isto serviria para as bases de rebanho locais em Uberaba e Conquista, Minas Gerais, para que não houvesse a necessidade de buscar esses animais no Rio de Janeiro. Até 1920 tudo que tivesse cupim e orelhas longas era classificado como "Zebu" (SANTOS, 2007).
Os negócios realizados com o gado zebuíno rústico e adaptados ao nosso clima tropical se expandiram por todo o país com o trabalho de comercialização dos "mascates", que primeiramente tocavam o gado montados em lombo de burros e mulas e anos mais tarde, com a vinda da indústria automobilística para o Brasil nos anos de 1950-60, utilizavam caminhões (LOPES E REZENDE, 2001).
Um dos episódios peculiares na história da pecuária nacional foi quando o gado Zebu passou a ser "perseguido" por alguns pesquisadores da época, liderado pelo Dr. Luiz Pereira Barreto. Eles alegavam que o gado zebu era selvagem, impossível de domesticar, sendo a carne caracterizada como carniça e diziam que os europeus apenas a consumiram por não haver outra opção durante a guerra.
Os criadores de Zebu eram chamados de boiadeiros e não criadores e eram difamados pelos "perseguidores do Zebu" como pessoas de personalidade leviana, pois vendiam "gato por lebre", ou seja, animais que não tinham raça muito bem definida, porém por possuírem algumas características raciais, como orelhas longas, eram vendidos como Zebu (LOPES e REZENDE, 2001; SANTOS, 2007).
Entretanto, o Zebu tinha defensores que apontavam estes animais como tendo interessantes características de adaptação ao clima tropical, resistência às epizootia, rusticidade, fecundidade, precocidade e rendimento econômico, sendo não apenas os criadores seus aliados, mas também a vanguarda de zootecnistas e autoridades do Ministério da Agricultura da época (LOPES e REZENDE, 2001).
Segundo Lopes e Rezende (2001) o crescimento do rebanho bovino nacional e dos negócios com as raças zebuínas incentivaram a idéia de associativismo e organizações para o fortalecimento dos pecuaristas e das raças no início do século XX.
A primeira iniciativa de organização de associações especializadas em Registros Genealógicos no Brasil foi realizada pela Associação Rural de Bagé, em 1914. Num primeiro momento seria aberto para registrar quaisquer das espécies animais, sendo elas úteis ao homem (LOPES e REZENDE, 2001).
O exemplo de São Paulo e da região sul do país em 1918 - o Herd Book Zebu - começou a ser organizado pelo presidente do Jockey Club de Uberaba, Fernand Ruffier. Em 16 de fevereiro de 1919, cerca de 46 pecuaristas uberabenses interessados na defesa dos pecuarista e na organização das raças, formaram a primeira assembléia para eleger a primeira diretoria da associação cujo objetivo era o desenvolvimento das raças zebuínas no estado de Minas Gerais e seu aprimoramento para assegurar a pureza das raças.
Passaram-se algumas décadas e devido ao declínio nos negócios do gado, às perseguições à raça zebuína e acusações por parte do Rio Grande do Sul concernentes à má qualidade do gado exportado para aqueles estados, a Associação do Herd Book Zebu sofreu um processo de enfraquecimento e em 1934 foi incorporada pela Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM) com sede em Uberaba (LOPES e REZENDE, 2001).
Segundo Santos (2007) a crise dos cafezais, a primeira guerra e a crise do pós-guerra criaram condições favoráveis ao fortalecimento econômico da atividade pecuária e à consolidação das primeiras raças puras como o Guzerá e o Nelore e o mestiço triplo denominado Indugoiais, Induporã, Induaraxá, Induberaba, Indubahia e Indubelém até chegar numa nova raça brasileira, o Indubrasil (1928). Aqui fica marcado o esforço dos criadores na busca de uma pecuária tropical através de cruzamentos até chegarem em animais rústicos e adaptados ao clima.
As conquistas zootécnicas deste período das importações planejadas e dos cruzamentos intuitivos com as raças nativas e entre as indianas trouxeram avanços significativos para a pecuária nacional. Para Santos (2007) as principais são:
1) Seleção de animais de tração;
2) Seleção de raças importantes como Guzerá, Nelore e Gir;
3) Livros de registros das raças nas fazendas;
4) Cruzamentos com raças variadas de origem européia (Durham, Limousin, Schwyz, Charolês, etc...);
5) Formação da raça Indubrasil de maneira intencional, com sangue de Guzerá, Nelore e Gir;
6) Abertura de novas fronteiras com a ocupação do semiárido nordestino, Amazônia, Sul e o Centro Oeste, onde o gado se adaptasse rapidamente;
7) Introdução de provas zootécnicas como pesagem do leite, controle de peso e provas com forragens para testar a palatabilidade dos animais;
8) Exportação de carne mostrando o potencial brasileiro como fornecedor de proteína animal; e
9) Início das exposições nacionais.
Tração
Crise do café, II Guerra Mundial e expansão da bovinocultura ( 1925 a 1945)
Segundo Santos (2007) este período é marcado pela queda da atividade cafeeira que já experimentava desde a década de 1920 muitas turbulências no mercado internacional. Os países concorrentes produziram mais e não paravam de crescer, enquanto o Brasil mergulhava numa crise do setor rural.
Com uma estrutura colonialista o país substituía uma atividade por outra, visando sempre o mercado internacional, porém a pecuária zebuína permanecia como um escape econômico, ou seja, uma moeda de reserva aguardando a crise passar.
Neste período a maneira de salvar a situação estava na venda das propriedades. O processo de divisão do tamanho das propriedades dispersaria os grandes proprietários das terras, os colonos e seus empregados. A pergunta era: o que fazer nas pequenas propriedades que surgiram?
O mais sensato foi a prática da pecuária mista com gado de leite e corte. Outro fenômeno que surgia era a tentativa dos grandes agricultores de vender as terras já cultivadas e comprar terras não cultivadas nas fronteiras agrícolas onde somente a pecuária de corte daria resultado (SANTOS, 2007).
Apesar da crise, Getúlio Vargas inicia um processo de incentivo às raças zebuínas, prometendo a instituição dos livros de Registro Genealógicos. Por pressão dos grandes criadores do Triângulo Mineiro a promessa cumpriu-se com a concessão dos Registros a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro em Uberaba que, no futuro, tornou-se a ABCZ (SANTOS, 2007).
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) novamente veio ajudar a pecuária de corte no país; já no seu início os preços dispararam, como era esperado, e para contribuir mais ainda a Argentina tinha reduzido seu rebanho em 5,3%, os Estados Unidos passaram de apenas 65 para 82 milhões de cabeças nos anos de 1938 a 1944, o rebanho uruguaio havia estacionado em 100 mil toneladas de carne por ano, pois áreas de expansão não mais existiam.
O Brasil estava exportando antes da II Guerra de 40 a 50 mil toneladas de carne e já no início do conflito aumentou para 80 mil toneladas. Em 1940 chegaria a 147 mil toneladas terminando o ano de 1942 com 127 mil toneladas exportadas (SANTOS, 2007).
Segundo Santos (2007), com o aquecimento da pecuária acelerou-se o processo de abertura de novas fronteiras no país. Em 1940 existiam 1,9 cabeças de gado por habitante, chegando a 2,2 cabeças por habitante em 1950, ou seja, o rebanho praticamente dobrou de tamanho no período da II Guerra. Depois disto houve uma estabilização que se mantém até os dias atuais em cerca de 1,0 cabeças por habitante.
Neste período, o zebu gerava as chamadas "ondas" (novas raças que iam se formando substituindo as anteriores para movimentar a compra e venda do gado). Os mascates, que comercializavam o gado, faziam fortunas com os animais registrados pela SRTM que, por sua vez, fazia tudo para apoiá-los e prestigiá-los, perpetuando assim os negócios e gerando demanda de produtos registrados. Observou-se, historicamente, que quando uma determinada raça atingia seu auge, promovia-se uma queda nos registros e então os mascates eram instigados a gerar uma nova "onda" de gado puro-sangue.
Como exemplo, teve-se o Gir que acasalado com o Indubrasil produziu um meio sangue que atingiu o que se ambicionava tanto na época: a heterose, ou seja, infusões de sangue produzindo mestiços com muita carne ou leite que geravam nova demanda pelo expressivo potencial destes animais.
Segundo Santos (2007) outra riqueza agrícola que decaiu com a Guerra foi a do algodão. A derrota da Alemanha e Japão - maiores compradores do Brasil - derrubou os níveis das exportações de 322,5 mil para 100 mil toneladas. O "ouro branco", como era denominado, acabou e milhares de propriedades faliram, alavancando, novamente, o fenômeno da corrida para a pecuária rústica. O pós-guerra gerou um novo desenho mundial.
A libra esterlina perdia seu poder para o dólar americano e indústrias frigoríficas mundiais como a Swift e Anglo se instalaram no Brasil comprando terras e abrindo novas fronteiras onde somente o zebu conseguia penetrar. Neste período o Nelore começa a se destacar, mais barato e bem mais resistente que as demais raças e sem exigir tanta mão de obra como as demais raças zebuínas.
As principais conquistas zootécnicas desta fase foram:
1) Consolidação da raça Indubrasil;
2) Introdução do Zebu no estado de São Paulo;
3) Exportação brasileira de gado para os Estados Unidos para formar a raça Brahman;
4) Retorno às raças puras como fator essencial para a seleção;
5) Exportação de carne para os soldados durante a II Guerra Mundial;
6) Aprovação da França, entre outros países, do sabor da carne brasileira;
7) Introdução da raça Gir nas pequenas e médias propriedades como fornecedora de leite após a decadência do café, garantindo uma renda para as famílias;
8) Ocupação das áreas do Centro-Oeste e em Goiás;
9) Comprovação de que as raças zebuínas possuíam excelente peso final de abate e carcaças quando comparadas às outras raças nacionais;
10) Importação de 1930 que introduziu animais de genética superior mostrando a evolução dos critérios de escolha por parte dos zebuzeiros e importadores (SANTOS, 2007).
Bey 1940
A bovinocultura se firma no território nacional ( 1945 a 1956)
Segundo Lopes e Rezende (2001) as ações governamentais foram o grande impulso do comércio do Zebu que, através do Banco do Brasil com financiamentos vultosos, chegou a incentivar pessoas inexperientes a largarem suas profissões e investirem no Zebu, comprando e vendendo sem conhecimento de mercado ou de produção.
A supervalorização do gado da "moda" levou à necessidade de importar carne do Uruguai para abastecimento do mercado interno, e o governo da época teve que intervir nos negócios. A especulação estava tão gritante que no ano de 1945 veio a "Lei da Pecuária" ou da "Crise da Pecuária".
Houve corte nos créditos aos fazendeiros e para piorar a situação os preços do pós-guerra despencavam e o valor do gado selecionado foi decaindo até se igualar ao preço do mestiço. Um exemplar de raça pura que valia na época 20.000 réis passou a valer 600 e a carne brasileira perdia o valor no mercado externo (SANTOS, 2007).
A decadência do rebanho de seleção levou pecuaristas a fecharem as porteiras e não havia investimentos em insumos ou em instalações. Este período encerrava a "era da pecuária fantasma", onde o animal puro despendia muito dinheiro enquanto o mestiço gerava leite e carne com um custo mais baixo. A especulação acabava aqui, onde milhares de propriedades foram entregues aos bancos para quitação de dívidas (SANTOS, 2007).
Para Santos (2007) juntamente com a seleção de animais de maior valor zootécnico ocorrido principalmente na década de 1930, os paulistas estavam pesquisando novos tipos de pastagens e a principal delas era o Colonião. Já na década de 1950 o Brasil apresentava grandes extensões de terras exploradas e sendo ocupadas por esse novo capim sendo aproximadamente 35 milhões de hectares. Por outro lado, o capim Buffel entrava no sertão trazendo novas perspectivas para o clima árido.
Ainda nos anos de 1950, uma nova crise assola o país com a morte de Getúlio Vargas em 1954, seguida pelos impasses da sucessão. Pecuaristas procuram soluções para seus negócios. O pecuarista Celso Garcia Cid parte para a Índia em busca de espécimes Gir, Guzerá e Nelore.
Outros criadores seguem para o mesmo caminho com o intuito de ocuparem a posição de vanguardistas na criação do zebu. Esses animais chegaram ao Brasil somente entre os anos de 1960 e 1962 e a raça que mais se beneficiou desta importação foi a Nelore. Esta importação foi a última e mais significativa para o Brasil, nos anos posteriores e atualmente a importação de animais vivos foi proibida por questões sanitárias (SANTOS, 2007).
Em 1964 veio a ditadura militar com ela a preocupação do governo em promover a modernização da atividade primária no país - o que viria a ser muito positivo para a pecuária patronal. Nas incertezas políticas e econômicas da época, o zebu novamente prova que continuava sendo a "moeda" forte servindo como ativo fixo para as crises (LOPES e REZENDE, 2001).
Segundo Santos (2007), o estado do Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Nordeste, Pará, Maranhão, entre outros, surgem como novas fronteiras onde somente animais rústicos e bem adaptados ao clima de manejo barato poderiam trazer divisas para o país e para os pecuaristas.
As importações de 1962 - que trouxeram animais da raça Nelore - propiciaram novo ânimo para os criadores. É importante pontuar que neste período, na busca por novos conhecimentos e com a evolução da pesquisa, as raças vão se assentando nos variados biomas brasileiros: o Guzerá, que decai para dar lugar ao Nelore, encontra no Nordeste o seu hábitat por ser parecido com o deserto de Kutch, na Índia.
O Girolando (touro de raça Holandesa cruzado com vaca da raça Gir) foi se formando com a demanda nas regiões dos grandes centros que precisavam produzir em pequenas áreas, sendo elas propícias para o leite, gerando renda para o pecuarista familiar, entre outras opções de produção para pequenas faixas de terra (SANTOS 2007).
Ainda para o mesmo autor, a busca de animais com alta produção e mais baratos fez com que, ao contrário de comprar um Gir registrado e caro, houvesse a opção de um animal mestiço cuja rusticidade serviria para a ordenha em períodos de crise econômica.
Assim o Nelore ficaria como a nova opção para abertura das fronteiras e as vacas mestiças para a pecuária de pequeno porte. Neste período nota-se a profunda transformação na mentalidade dos criadores e nas orientações técnicas em busca de cruzamentos economicamente viáveis e com resultados mensuráveis. As características raciais dos animais puros são estabelecidas e fixadas para fins de registro.
Santos (2007) destaca que, para esta fase, ocorreram os seguintes avanços zootécnicos:
1) Estabelecem-se as características raciais;
2) Testam-se os limites máximos de porte e peso para as raças Nelore, Guzerá e Gir, com as provas zootécnicas;
3) Ocorrem novas exportações de gado Brahman para aprimorar a raça nos Estados Unidos;
4) Durante os testes de ganho em peso comprova-se que o zebu é tão bom e, por vezes, superior, quando comparado a outras raças europeias ou mestiças;
5) As novas importações introduzem animais indianos nitidamente superiores quando comparados a outras importações.
1948 a 1962
1966 a 1969
Diferenciação social dos produtores de bovinos ( 1965 aos dias atuais)
De acordo com Santos (2007), os avanços das pesquisas trouxeram uma nova visão para os empresários da época que continuaram a investir no campo e de uma forma como nunca se havia visto antes: o uso intensivo de ferramentas de marketing e iniciativas inovadoras como a implantação de leilões em recintos fechados (ao contrário das décadas passadas quando o gado era comercializado nos currais das fazendas).
Na primeira metade dos anos de 1960 o desenvolvimento da agricultura brasileira foi regulamentado a partir da visão de modernização da agricultura, sendo o Estatuto da Terra (1964) e o Estatuto do Trabalhador (1963) as principais medidas legais para que isso acontecesse.
Uma tratando da tecnologia, colonização e reforma agrária e a outra estendendo ao campo os direitos trabalhistas, previdenciários e sindicais estabelecidos para os trabalhadores urbanos contemplando pela Lei do Trabalho de 1943 (BERGAMASCO e NORDER, 2003).
"As políticas públicas direcionadas nesta fase, onde o governo investia em infraestrutura como estradas, portos e energia elétrica, eram discriminatórias e seletivas, mostrando como o regime militar implantava o modelo agrícola da revolução verde onde as fazendas tradicionais davam lugar às grandes empresas rurais, com mão de obra assalariada e altamente tecnificadas.
O mesmo autor ainda mostra que essas políticas contemplavam 60% do crédito rural para cinco produtos: a soja, o café, o açúcar-álcool, algodão e trigo, sendo que 40% deste dinheiro eram direcionados para 1% dos proprietários, empregadores, desde então, de 3% do total da força de trabalho no campo, isto indicava que 80% de produtores rurais tinham sido excluídos destas políticas. A maior parte deste montante financiado era direcionada para a região Centro-Sul, sendo que o estado de São Paulo foi o que mais se beneficiou com os investimentos" (Grindle citado por BERGAMASCO e NORDER, 2003).
Ao mesmo tempo em que o zebu despontava pelo Brasil com o apoio do setor patronal e financiado pelo governo, as mudanças sociais aconteciam de maneira drástica e dramática: as relações informais entre trabalhadores que moravam nas terras dos fazendeiros se enfraqueciam com as novas leis trabalhistas que acabaram por expulsar os trabalhadores rurais dos campos, fazendo com que os proprietários de terras se vissem cada vez mais forçados a abandonarem suas atividades ou darem um salto tecnológico para acompanhar as transformações que ocorriam nesta fase, no que ficou conhecido como a modernização da agricultura. O êxodo rural foi o resultado de todas essas pressões que ocorreram no campo.
Segundo Santos (2007) as conquistas zootécnicas que contribuíram para a evolução do rebanho brasileiro, principalmente relacionado à pecuária patronal nesta fase, foram:
1) Exigência de maior eficiência dos animais;
2) Critérios diferentes para cada raça nas exposições e provas zootécnicas de gado de corte e leite;
3) Introdução de programas de melhoramento genético como o Prozebu (Programa de Melhoramento Genético da Zebuinocultura) e PMGZ (Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas);
4) Massificação da Inseminação Artificial;
5) Uso intenso da Transferência de Embriões;}6) Consolidação do Controle Leiteiro;
7) Introdução de Testes de Progênie para avaliação de touros superiores e sua consequente evolução até a publicação anual do Sumário Nacional de Avaliação de Touros, tanto para leite quanto para carne;
8) Aumento das exportações de carne para diversos países do mundo;
9) Surgimentos de métodos biotecnológicos como os exames de DNA, Fecundação in vitro (FIV) e clonagem;
10) Utilização do computador e da tecnologia de informação nas grandes fazendas e entidades de criadores.
Texto e pesquisa: Aryanna Sangiovani Ferreira ( mestra em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável pela Unicamp) - gerente do zebu.org
Fontes:
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1970
Raça Gir
Indubrasil
Brahman
Tabapuã

Nelore 2017
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU