A engenharia do rúmen
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Publicado em 12/09/2017 às 08:31:53
- atualizado em 12/09/2017 às 08:38:09

Os ruminantes por excelência os bovinos da nossa lida diária são uma criação prodigiosa da natureza. O rúmen é uma grande câmara de fermentação que proporciona um ambiente anaeróbico com temperatura e pH constantes, povoado com uma microbiota complexa composta por bactérias, protozoários, fungos, dentre outros.Artigo escrito por Luiz Antônio Josahkian. Especialista e Superintendente da área de melhoramento genético da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu ( ABCZ) - Revista Globo Rural
A engenharia do rúmen
Os ruminantes por excelência os bovinos da nossa lida diária são uma criação prodigiosa da natureza. O rúmen é uma grande câmara de fermentação que proporciona um ambiente anaeróbico com temperatura e pH constantes, povoado com uma microbiota complexa composta por bactérias, protozoários, fungos, dentre outros.
Essa microbiota vive em simbiose perfeita nos ruminantes. Os ruminantes foram criados originalmente para pastar, comer capim. São mestres na arte de digerir capim e fibras, graças ao seu engenhoso processo de ruminação. Mas o mundo mudou, e aceleramos o processo fazendo com que os bovinos passassem a ingerir grãos, muitos grãos. Que o digam as vacas leiteiras de alta produção.
Bois não saíam por ai comendo plantações de milho ou soja. Fomos nós que levamos os grãos até eles. Mas a adaptação milenar dos ruminantes ao seu estilo de alimentação requer cuidados. Eles reagem mal a mudanças de dietas e precisam de um processo relativamente lento para se adaptarem.
Mudanças ruminais iniciam severas mudanças sistêmicas: aumento dos ácidos orgânicos, principalmente o ácido lático, redução do pH e da motilidade do rúmen. Uma mudança abrupta de uma dieta constituída por volumosos para outra com alta inclusão de concentrados pode levar à manifestação de acidose aguda ou subaguda, todas ligadas à redução de ingestão de matéria seca pelos animais.
Basicamente, ao ingerir concentrados, os bovinos fazem uma injeção de glicose no rúmen. Isso provoca o aumento de todas as bactérias do rúmen, incluindo aquelas que produzem ácido lático, baixando o pH. Se o pH do rúmen se mantiver constante, ao redor de 6,5, a microbiota se equilibra e o processo segue normal.
Contudo, se o pH continua caindo, bactérias do gênero Lactobacillus se proliferam e seguem produzindo mais ácido lático, em um circulo vicioso. Quando o pH ruminal cai abaixo de 5,2, o crescimento de bactérias Streptococcus bovis é inibido, mas as bactérias do gênero Lactobacillus seguem proliferando e continuam produzindo mais ácido lático.
Por outro lado, ocorre uma redução no número dos microrganismos consumidores de ácido lático (Megasphera elsdeníi e Selenomonas ruminantium), causando um acúmulo ruminal do mesmo. Essas mudanças estabelecem condições para a penetração de determinadas bac térias (Fusobacteriumnecrophorum) através da parede ruminal, as quais chegam ao fígado, podendo causar abscessos.
Desse modo, a eficiência hepática é prejudicada, levando a uma queda de desempenho do animal. Quadros mais grave levam a aumento da pressão osmótica ruminal, diminuição do volume extracelular, resultando em desidratação, batimentos cardíacos inconstantes, diminuição da circulação sangüínea periférica, redução do fluxo de sangue para os rins, choque e morte.
Por isso, o período de adaptação a novas dietas tem como principais objetivos melhorar os processos benéficos, minimizar, deletar ou alterar os processos ineficientes e minimizar, deletar ou alterar os processos prejudiciais para o animal hospedeiro, no caso nosso boi.
A transição de dietas, via de regra, deve ser feita em um período ao redor de 14 dias, oferecendo aos animais dietas múltiplas diárias, nas quais o volumoso dá lugar gradualmente ao concentrado. É o tempo que o rúmen precisa para se repovoar das bactérias adequadas ao novo manejo.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU