A história da agricultura no Espírito Santo e o papel de Napoleão Fontenelle
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Publicado em 12/09/2017 às 19:35:49
- atualizado em 21/09/2017 às 15:09:03
O dr. Napoleão Fontenelle da Silveira faz parte da história do desenvolvimento agropecuário do Espírito Santo. Dedicou toda sua vida em melhorar as condições do homem ligado a terra. Nasceu na cidade de Viçosa, no Ceára, em 8 de setembro de 1902, numa pequena propriedade agrícola, que cultivava café e pimenta-do-reino.
Formou-se na Escola de Agronomia do Ceará, em 1924. Precisou, após a formatura, deslocar-se do seu estado para Bauru, São Paulo, para iniciar suas atividades profissionais. No Governo Florentino Ávidos foi convidado para exercer a função de agrônomo regional, em 26 de maio de 1926, com sede em Santa Leopoldina, Guarapari e Domingos Martins, sendo logo designado como chefe do Distrito de Terras, encarregado de medição de terras devolutas do Estado. Como agrimensor, trabalhou em Santa Leopoldina, Guarapari e Domingos Martins.
Nomeado prefeito de Santa Leopoldina em fevereiro de 1932, pelo interventor federal João Punaro Bley, em 1936 foi eleito para o mesmo cargo. Renunciou para assumir a direção geral de Agricultura do Estado do Espírito Santo, quando implantou e desenvolveu os Campos de Cooperação e Melhoramento da Atividade Agropecuária, com a participação dos produtores rurais, tendo sido esse o primeiro projeto oficial de extensão rural no Brasil.
Em 1947 assumiu a Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas, integrando a equipe do primeiro governo de dr. Carlos Lindenberg, na qual permaneceu até 1951, período no qual foram implantadas as bases para o desenvolvimento da agropecuária no Espírito Santo. Trouxe para o Estado o primeiro posto de inseminação artificial para bovinos e eqüinos, sediado em Cachoeira de Itapemirim, com irradiação para os demais municípios, tendo sido o Espírito Santo pioneiro neste tipo de melhoramento genético.
Através de entendimentos mantidos com o Ministério da Agricultura, que estava importando chocadeiras para expansão da avicultura industrial, Fontenelle conseguiu incluir uma chocadeira elétrica com capacidade para 10.500 ovos, instalada na Fazenda Santana, Município de Cariacica, conforme já exposto em capítulo anterior. Essa "fábrica de pintos" passou a ser um local de passeio e visita nos finais de semana, não só por ser a segunda implantada no Brasil, mas também porque toda a reprodução anteriormente era feita em chocadeiras a querosene, cuja capacidade máxima era de 350 ovos. Na mesma ocasião nesta Fazenda, foi instalado o Instituto Biológico do Espírito Santo, que passou a fabricar a vacina anti-rábica, bem como a proceder ao diagnóstico do material colhido nos animais doentes ou suspeitos de serem portadores da doença. Na então Estação Experimental de Sericicultura, em Vargem Alta, além das atribuições de fomento da atividade sericícola, passou-se a produzir seda pura, que era muito procurada por sua qualidade.
É mister ressaltar que se a pecuária hoje no Espírito Santo tem importância econômica, precisamos voltar ao passado para entender como isso foi alavancado. A Secretaria de Agricultura, por diversos anos, comprou dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo reprodutores e reprodutoras bovinas, das raças de corte e de leite, bem como suínos e aves que foram trocados por outros animais ou vendidos da forma que o criador pudesse adquiri-los. Nas Fazendas Santana (Cariacica), Monte Líbano (Cachoeiro de Itapemirim) e no Posto Zootécnico de São Mateus, sob orientação do Estado, eram reproduzidos bovinos, suínos e aves que posteriormente eram vendidos ou cedidos por empréstimo aos criadores para melhoria dos rebanhos. Todas essas realizações foram executadas numa época de recursos escassos, sem uma infra-estrutura como se tem hoje - rodovias, veículos meios de comunicação, mas com a seriedade e dedicação de um grupo com espírito público e determinação para o trabalho, formado por colaboradores como o autor dessa memória, Agliberto Rodrigues Moreira, Edissio Cirne, Amélio Alegria, Carlos Braz Cola, dentre outros.
Naquele Governo Napoleão assumiu também, por meses, a Secretaria da Fazenda do Estado. Exemplo de trabalho, austeridade e dignidade, Napoleão Fontenelle deu grande incremento ao meio rural capixaba, implantando o crédito rural através do serviço de extensão rural da Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo (Acares). O Espírito Santo foi o primeiro estado brasileiro a viabilizar esse tipo de apoio sócio-econômico ao produtor rural.
Seu conhecimento do interior do Espírito Santo, suas coonstantes viagens e convívio com o homem do campo e atividades agropecuárias, sua experiência de anos em serviço público, o tornaram um representante da classe ruralista muito respeitado e cultivando muitos e fiéis amigos.
Com a confiança e fidelidade da classe rural foi eleito deputado federal por três legislaturas consecutivas, tomando posse em 1951, 1954, e 1958, respectivamente. Durante sua permanência na Câmara federal integrou permanentemente a Comissão de Economia, e foi suplente da Comissão de Orçamento.
No Congresso, Napoleão Fontenelle foi um dos incentivadores da criação do Bloco Parlamentar Ruralista, ocupando nesta época o posto de presidente da Federação das Associações Rurais do Espírito Santo, função que exerceu por doze anos. Foi autor do projeto de lei que regularizou a profissão de engenheiro Agrônomo no Brasil, pelo que foi condecorado pela Sociedade de Engenheiros Agrônomos de São Paulo, com a Medalha Marechal Cândido Rondon, em 1969.
Sendo seu trabalho especialmente direcionado para o desenvolvimento do meio rural, participou com êxito na implantação de várias cooperativas, além da criação das três escolas agrotécnicas para os filhos de produtores, que são a Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa, Escola Agrotécnica de Colatina e Escola Agrotécnica de Reve, todas até hoje mantidas pelo Ministério da Educação.
Como deputado federal, foi convocado pelo presidente Juscelino Kubitschek para ser o primeiro presidente do Serviço Social Rural, quando lançou o delineamento das políticas e serviços que seriam prestados por essa recém criada autarquia, que ele assumiu em março de 1958.
Com expressiva votação na Câmara, foi concedida autorização para que Fontenelle exercesse a presidência do Serviço Social Rural simultaneamente com o mandato parlamentar, o que estabelecia um vínculo do novo órgão nacional, ligado ao Ministério da Agricultura, com o Poder Legislativo.
O Serviço Social Rural foi criado para viabilizar assistência técnica e social ao homem do campo, para trazê-lo à coletividade e fixá-lo no local de trabalho, evitando o êxodo rural.
A estrutura e atuação desse órgão nacional viriam, mais tarde, a propiciar ao governo da Revolução a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Em 1961, o deputado Napoleão Fontenelle licenciou-se da Câmara para assumir sua segunda gestão á frente da Secretaria de Agricultura do Espírito Santo, dando sua colaboração ao segundo governo do amigo dr. Carlos Lindenberg.
Como secretário da Agricultura, antevendo as possibilidades econômicas da área rural, numa época em que a cafeicultura tinha prioridade absoluta, implantou a pecuária organizada no Estado. Nessa segunda gestão na Secretaria, foi criado o Parque de Exposições Agropecuárias de Itacibá, no município de Cariacica.
Em 1962, como representante da lavoura cafeeira do Estado do Espírito Santo, foi eleito para a Junta Administrativa do Instituto Brasileiro do Café (IBC). Em 1965, foi escolhido pelo presidente marechal Castelo Branco para o cargo de diretor do IBC, onde atuou até 1968, quando se afastou, a pedido, da vida pública.
Em 1928 iniciou modestamente a criação de gado nelore e guzerá, introduzindo as raças zebuínas no Espírito Santo. Participou, como representante do governo brasileiro, da escolha de animais de alta linhagem na Índia, mais tarde trazidos para o Brasil.
Em 1974 teve a satisfação de obter os maiores títulos até então conquistados pela pecuária capixaba, que foram os de Grande Campeão Nacional e Grande Campeã Nacional da raça guzerá, na II Exposição Nacional de Gado Guzerá, fato até então inédito. Em decorrência, recebeu ainda no mesmo ano a condecoração de Mérito Agrícola Setor Pecuária, conferido pela Sociedade Nacional de Agricultura (1974).
Recebeu a condecoração de Mérito Agrícola Nacional (1972) Setor Lavoura, conferida pela Confederação Nacional de Agricultura. Em 1973 Napoleão Fontenelle recebeu da Assembléia Legislativa o título de Cidadão Espírito Santense, e de Cidadão de Santa Leopoldina, por deferência da Prefeitura daquele município, onde esse cearense-capixaba iniciu sua vida pública. No mesmo ano foi agraciado com o título de presidente de honra da Federação da Agricultura do Estado do Espírito Santo, pelos relevantes serviços prestados à comunidade agropecuária do Estado.
Foi sócio e participou de várias entidades de classe no país. Quando faleceu, em 1975, respondia pela vice-presidência da Associação de Criadores de Guzerá do Brasil, do qual foi fundador e primeiro presidente em 1956.
O criatório de Guzerá iniciado por Napoleão Fontenelle teve continuidade pelo seu filho, Haroldo Fontenelle. Sua família, orgulhosa do pai e avô que tiveram facilidade de ter, constitui-se de três filhos, quatro netos e seis bisnetos.
Fonte: A história da agricultura no Espírito Santo ( Autor: Guilherme Pimentel Filho)
Adaptação equipe zebu.org
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