Os novos caminhos da gestão rural
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Sustentabilidade » Assuntos em debate
Publicado em 25/09/2017 às 09:04:25
Foi-se o tempo em que era possível controlar o fluxo de caixa de uma propriedade rural nos antigos cadernos de capa dura preta. Hoje, a informatização é indispensável para qualquer negócio, e na vida dos pecuaristas não é diferente. Ela não é traduzida somente por aparelhos tecnológicos, mas também por meio de conhecimento e investimento em gestão.Especialistas afirmam que para aumentar os lucros e fazer o direcionamento do que realmente a propriedade é capaz de produzir, o primeiro passo é entender a fazenda como uma empresa. Para que isso seja feito da maneira correta, são necessárias algumas atitudes focadas em técnicas de administração.Thaís Ferreira ( Jornalista de ABCZ)
Um dos passos a ser adotado é a organização dentro da propriedade rural. É importante ter um controle financeiro com uso, principalmente, de planilhas de fluxo de caixa. Utilizando ferramentas adequadas, o produtor rural poderá entender melhor suas receitas e despesas, além de conseguir encontrar com segurança o momento de controlar gastos ou o de aumentar os investimentos.
"Fique amigo dos softwares, eles ajudam muito. Não tem como falar de negócio se não tiver uma planilha de Excel ou programa específico. Quando o assunto é gestão, precisamos de uma ferramenta", aconselha Régis Henrique Barbosa, médico veterinário formado pela Universidade de Lavras - MG, coordenador de projetos na área de gestão financeira e econômica, facilitador de cursos de capacitação e pós-graduações do Rehagro - Empresa de Formação Profissional, que atua no mercado há quinze anos e já treinou mais de treze mil pessoas.
Outro importante pilar da gestão é o planejamento estratégico, e para colocá-lo em prática de forma contínua e eficaz, um plano de ação muito utilizado por empresas é o ciclo PDCA. Essa é uma ferramenta da gestão que, apesar de ser facilmente aplicada, faz toda diferença no negócio. PDCA é uma sigla que vem do inglês e significa nada mais do que planejar, fazer, acompanhar e corrigir. Colocando o ciclo na prática, no planejamento os problemas são analisados. Na hora do "fazer" é exatamente isso, por em prática tudo o que foi decidido no planejamento. Em seguida, começa a fase do acompanhamento.
Nessa etapa, deve-se checar todo o processo nos mínimos detalhes, verificando se está tudo sendo realizado conforme o planejado. Ocorrendo alguma falha ou chance de melhora, é hora de corrigir. Nesse momento, o ciclo começa a ser enxergado, pois sempre haverá algo a melhorar. E, nessa hora, novamente é preciso planejar. "Os produtores rurais não planejam, eles não sabem aonde querem chegar. Alguns assumem a fazenda do pai e tocam com o mesmo padrão. Outros ganham dinheiro de outro jeito e o levam para o agronegócio, achando que lá podem tocar de qualquer jeito. Mas hoje a conjuntura do agronegócio é muito diferente do que era há quinze anos. Hoje, não tem jeito de não falar em planejamento", define Régis.
Planejamento estratégico, ciclo PDCA, fluxo de caixa, esses são apenas alguns exemplos em meio às inúmeras ferramentas e conceitos que são imprescindíveis na vida do produtor rural que deseja manter-se forte no mercado. "Com uma gestão bem conduzida, os esforços são bem direcionados e os resultados são alcançados", finaliza Régis Henrique Barbosa.
De aprendiz a gestora e palestrante
Maria Thereza Rezende é produtora rural, zootecnista, pós-graduada em nutrição de gado de leite e em gestão de agronegócios pela Rehagro/Fazu. É capacitada em gestão de pessoas, liderança e coaching pela FranklinCovey Brasil e Torres Liderança. Dona de um currículo invejável em cursos ligados ao agronegócio a mineira só conheceu um bovino aos trinta e cinco anos de idade quando herdou da sogra a fazenda da Vovó situada em Arcos (MG).
Ao assumirem a nova propriedade Maria Thereza e o marido José Rezende não tinham nenhum vínculo com o meio rural. Com a percepção e visão empresarial de José, sócio de uma empresa de auditoria e consultoria e especializado na área de gestão, o primeiro passo foi fazer um plano de negócio que possibilitou testar a viabilidade levando em consideração a área, relevo, altitude e perfil da região. A atividade escolhida pelo casal foi a criação de gado leiteiro, com sistema de pastejo rotacionado intensificado com suplementação.
A então advogada tributarista acostumada a lidar com negócios jurídicos, começou a se envolver com o tema rural e decidiu voltar para a universidade para estudar zootecnia. Inicialmente a fazenda produzia dois mil e cem litros de leite e era administrada à distância. O casal morava em São Paulo, passando boa parte do tempo longe da fazenda. A administração ficava por conta de Maria Thereza, e o marido dava suporte nas compras de insumos e nas vendas de animais. "Como zootecnista, tinha noções dos índices, dos retornos, mas nem sempre o melhor índice zootécnico te traz o melhor retorno. É muito importante você entender isso e saber no que sua propriedade vai responder. Nem sempre o que é bom para o seu vizinho é bom para você", afirma Maria Thereza.
Foi quando ela sentiu a necessidade de adotar modelos administrativos que buscassem a redução dos custos de produção e aumento do faturamento, que se matriculou no curso de gestão do agronegócio pela Rehagro/Fazu. "Sentia falta de ter o conhecimento econômico e financeiro para mostrar ao meu sócio que o projeto daria um bom retorno tanto zootecnicamente como financeiramente. Após fazer o curso consegui ver o meu negócio como um todo. Comecei a perceber quais são os melhores momentos pra investir, quais são os momentos que eu devo recuar. Entender bem como funciona um fluxo de caixa, uma demonstração de resultado, mostrar para o meu sócio no final do ano que a gente aplicou bem o dinheiro que ganhamos ali", explica.
Após onze anos de atividades, a Fazenda da Vovó integrou-se a Terra do Leite, localizada em São Gotardo (MG). A propriedade é sinônimo de modernização. Com um sistema de "cross ventilation" e ordenha robotizada a fazenda tem num projeto para que até 2018 atinja produção de 20 mil litros de leite, projetando um crescimento para até 40 mil litros.
Toda essa prosperidade contribuiu para evolução da agropecuária na região e transformou Maria Thereza em palestrante referência no mundo dos negócios pecuários. Nos cursos, workshops e palestras que ela ministra é exibido o modelo de gestão utilizado na Fazenda da Vovó e ela faz questão de falar quais são os pontos e os momentos onde erraram "A pecuária leiteira é um risco muito alto para quem não tem a ambição de gestão. Hoje em dia a nossa margem de lucro é muito pequena. E a nossa margem para poder errar é menor ainda. Se você não for muito bom na gestão econômico-financeira você tá fadado ao fracasso" finaliza.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU