EMBRAPA divulga pesquisa: o antes e o depois do CAR
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Publicado em 09/10/2017 às 13:55:25
O objetivo principal desta pesquisa foi o de identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros, a partir dos dados cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, o SICAR.Esse objetivo principal deveria contribuir para o conhecimento do papel desempenhado pela agropecuária nacional na preservação ambiental, no uso sustentável das terras e do espaço rural, em diversas escalas temporais e espaciais.Para acessar o documento na íntegra clique em: EMBRAPA
OBJETIVOS E METAS
O objetivo principal desta pesquisa foi o de identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros, a partir dos dados cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, o SICAR.
Esse objetivo principal deveria contribuir para o conhecimento do papel desempenhado pela agropecuária nacional na preservação ambiental, no uso sustentável das terras e do espaço rural, em diversas escalas temporais e espaciais.
A pesquisa proposta e realizada pela equipe do GITE Embrapa foi dividida, em termos táticos e operacionais, em objetivos secundários ou metas, como segue:
1 - Quantificar e avaliar a dimensão numérica e espacial dos imóveis rurais cadastrados no CAR e SICAR até dezembro de 2016, em diversos recortes territoriais (microrregiões, estados, regiões e país) e quanto ao referencial representado pelos dados de estabelecimentos agropecuários existentes no Censo do IBGE de 2006;
2 - Unificar e cartografar (em escala e projeção homogêneas) todas as áreas destinadas à preservação da vegetação cadastradas em cada imóvel rural registrado no CAR a título de reserva legal, áreas de preservação permanente, vegetação excedente etc., por microrregião, estado, região e país, eliminando o máximo possível de sobreposições de limites, duplicidades, erros, incoerências de localização etc.;
3 - Quantificar e qualificar o total das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais, a partir de cálculos e estimativas aplicadas aos dados do CAR e SICAR existentes até dezembro de 2016;
4 - Proceder a uma avaliação inicial dos procedimentos e métodos desenvolvidos e aplicados no atingimento dos objetivos propostos e na validação das hipóteses de trabalho a eles associadas, de forma a que sejam passíveis de serem utilizados por outras pesquisas e pesquisadores, em outros contextos.
O atingimento desse objetivo principal impõe três desafios indissociáveis: o do desenvolvimento metodológico para atingir os resultados esperados; o das análises numéricas e cartográficas dos resultados obtidos, em vários recortes temporais e espaciais e, finalmente, o da expressão ou da comunicação organizada desses avanços a serem obtidos em ambientes adequados (website).
HIPÓTESES
Diante dos objetivos propostos na pesquisa, a equipe do GITE Embrapaformulou três hipóteses principais a serem validadas ao longo do trabalho pelos métodos aplicados e resultados a serem obtidos. São elas:
HIPÓTESE 1: A partir da quantificação precisa do número e da área dos imóveis rurais cadastrados no SICAR pelo Serviço Florestal Brasileiro, complementada pela quantificação numérica dos imóveis rurais cadastrados no CAR dos estados, fornecida também de forma precisa pelos extratos dos Boletins Informativos mensais do CAR, é possível calcular a dimensão numérica e territorial atingida pelo processo do Cadastramento Ambiental Rural por estado, região e país até o final de dezembro de 2016.
HIPÓTESE 2: A partir do conjunto de 18 diferentes planos de informação passíveis de compor o conjunto dos dados de cada um dos imóveis rurais cadastrados no SICAR, através de métodos de geoprocessamento adequados e de dados cartográficos auxiliares, é possível mapear e calcular a área destinada à preservação da vegetação para diversos recortes territoriais do Brasil (microrregiões, estados, regiões e conjunto do país, por exemplo), eliminando ou minimizando erros cartográficos, sobreposições espaciais, dados espúrios e outros problemas de cadastramento (conceitos, temas, registro, mapeamento e cadastro), voluntários e/ou involuntários.
HIPÓTESE 3: A estimativa das áreas destinadas à preservação da vegetação nos resíduos de imóveis rurais do CAR estadual não integrados no SICAR nacional pode ser realizada, através de métodos aritmético-estatísticos adequados, a partir dos dados obtidos no mapeamento e cálculo dessas áreas destinadas à preservação da vegetação no conjunto dos imóveis rurais integrados ao SICAR, considerando que: esses resíduos do CAR são uma subpopulação minoritária do SICAR com tendência a diminuir ao longo do tempo (disponibilização no SICAR nacional dos dados já existentes no CAR dos estados e oriundos da continuidade do cadastramento até o final de 2017), mantendo as características da população estatística inicial da qual é um remanescente.
CAR
São centenas de milhões de polígonos geocodificados, com bancos de dados associados, no conjunto das informações geocodificadas trabalhados pela equipe do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa Monitoramento por Satélite.
A espacialização dos dados do CAR integrados no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) trouxe uma visualização inédita e precisa da áreas de vegetação, de diversas naturezas, preservadas no interior dos imóveis rurais do Brasil.
POPULAÇÃO ESTATÍSTICA E AMOSTRAS TRABALHADAS
A população estatística teórica, objeto desta pesquisa, corresponderia à totalidade dos imóveis rurais brasileiros. A noção de imóvel rural utilizada no CAR pelo Serviço Florestal Brasileiro é bastante semelhante à empregada pelo IBGE de estabelecimento agropecuário no Censo. Trata-se de uma unidade de produção, sob a responsabilidade de uma pessoa (física ou jurídica) de forma independente da condição fundiária do imóvel ou de seu gestor (arrendatário, parceiro, meeiro, proprietário, ocupante etc.).
Nesse sentido, o certificado do CAR não trata da condição jurídica ou fundiária da imóvel. Segundo o Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012) em seu Capítulo VI, Art. 29, § 2o: "O cadastramento não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina a necessidade de cumprimento do disposto no art. 2o da Lei no 10.267, de 28 de agosto de 2001".
Até o final de 2017, a soma da população de imóveis cadastrados em cada CAR estadual tenderá a aproximar-se da totalidade dos imóveis rurais brasileiros. Essa diferença é difícil de ser efetivamente aferida por falta de um referencial homogêneo e atualizado. O melhor referencial é ainda o Censo do IBGE de 2006. Existe entre o último Censo Agropecuário e o CAR um intervalo de 10 anos no qual muita coisa ocorreu no mundo rural brasileiro.
Além disso, há grandes diferenças de procedimento. Enquanto no Censo, o recenseador busca (e nem sempre encontra) o responsável pelo estabelecimento rural, principalmente em áreas remotas, no caso do CAR, o responsável é quem procurou e colocou seus dados no sistema, diretamente ou através de um preposto. Por tratar-se de um cadastro permanente, o CAR, além de duas etapas para baixar e enviar dados, ainda possui recursos para permitir tanto a consulta como a atualização de cada imóvel rural cadastrado (figura 1b).
Cadastro Ambiental Rural
Os dados do Censo IBGE 2006 serviram nesta pesquisa como um parâmetro de comparação, tanto para o número de imóveis como para a área apropriada em todo o Brasil via-à-vis dos dados do CAR e do SICAR, considerados até dezembro de 2016 (dados efetivamente disponibilizados no SICAR). O processo de cadastramento prossegue e a última atualização refere-se à situação em abril de 2017.
Em permanência, em termos estatísticos, esta pesquisa lidou com quatro populações ou subpopulações de imóveis a cada momento temporal: a população total existente (desconhecida), a população cadastrada no CAR estadual, a população cadastrada cujos dados migraram para o SICAR nacional e a população de imóveis do SICAR cujos dados estão efetivamente disponíveis para download no website do Serviço Florestal Brasileiro. Complementarmente, os números as áreas cadastradas, são atualizados regularmente pelos Boletins Informativos do CAR, com periodicidade mensal.
Em termos operacionais, com a definição do universo estatístico a ser trabalhado, os dados numéricos de base foram organizados em duas populações de imóveis rurais para a obtenção e a análise dos resultados almejados:
· Imóveis disponíveis no SICAR em dezembro de 2016, cujas áreas de vegetação preservada serão medidas cartograficamente e calculadas por geoprocessamento;
· Resíduos de imóveis rurais existentes em cada CAR estadual em dezembro de 2016, ainda não disponível no SICAR, cujas áreas de vegetação preservada serão estimadas por procedimentos aritméticos estatísticos.
MÉTODOS
Os procedimentos metodológicos apresentados a seguir, principalmente no mapeamento homogêneo e unificado das áreas de vegetação preservada nos imóveis rurais constituem um dos principais produtos inovadores entregues por essa pesquisa realizada pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa.
QUANTIFICAÇÃO DA DIMENSÃO NUMÉRICA E TERRITORIAL DO CONJUNTO DOS IMÓVEIS RURAIS CADASTRADOS NO CAR
A quantificação numérica dos imóveis rurais cadastrados no SICAR até dezembro de 2016 foi obtida na base de dados do Serviço Florestal Brasileirodo Ministério do Meio Ambiente. Ela foi complementada pela quantificação numérica dos imóveis rurais cadastrados no CAR dos estados, graças às quantificações fornecidas nos extratos dos Boletins Informativos mensais do CAR. Utilizando tabelas em Excel, esses dados foram organizados por estados, regiões e país, a partir de duas variáveis principais: número e área dos imóveis rurais cadastrados no CAR.
Para fins de um referencial de comparação, também foram organizados em tabelas Excel com os dados do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE sobre o número dos estabelecimentos agropecuários levantados por estados, regiões e país. Essas informações censitárias também foram organizadas por duas variáveis principais: número e área dos estabelecimentos agropecuários levantados.
Por meio de operações aritméticas básicas, foi possível realizar a comparação absoluta e relativa dos dados numéricos e de superfície dos imóveis rurais, bem como estimar suas "evoluções" entre 2006 e 2016. Os próprios recursos do Excel permitiram outros cálculos intermediários e a hierarquização decrescente dos valores relativos obtidos e a construção de diversas tabelas. O conjunto desses cálculos permitiu avaliar a dimensão numérica ou a evolução do número de imóveis cadastrados no CAR por estados da federação, regiões e país, comparados aos números pertinentes do Censo Agropecuário de 2006. Esse mesmo conjunto de cálculos também permitiu avaliar a dimensão territorial ou a evolução da área dos imóveis cadastrados no CAR por estados da federação, regiões e país, quando comparados aos números pertinentes do Censo Agropecuário de 2006.
Esse conjunto de tabelas criadas e geradas, além de permitir o dimensionamento numérico e territorial dos imóveis rurais cadastrados no CAR, serviu para apoiar a medição cartográfica das áreas de vegetação preservada nos imóveis rurais cadastrados no CAR, bem como a estimativa das mesmas nos resíduos de imóveis rurais do CAR estadual não integrados ao SICAR nacional.
MEDIÇÕES CARTOGRÁFICAS E CÁLCULOS POR GEOPROCESSAMENTO DAS ÁREAS DE VEGETAÇÃO PRESERVADA NO CONJUNTO DOS IMÓVEIS RURAIS CADASTRADOS NO SICAR
Para a Embrapa, esta constitui a etapa metodológica mais central e decisiva para o banco de dados do SICAR: poder-se detectar, identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas de vegetação preservadas nos imóveis rurais cadastrados no CAR, em bases homogêneas e unificadas.
Métodos e programas com a finalidade de integrar as informações ambientais dos imóveis rurais para controle, monitoramento e combate ao desmatamento vêm sendo desenvolvidos pelo Serviço Florestal Brasileiro com a Universidade Federal de Lavras.
No caso da Embrapa, tratava-se de outra questão: desenvolver procedimentos e métodos para integrar os dados geocodificados nos planos de informação de mais de 4 milhões de imóveis rurais ao planejamento agropecuário local, estatual, regional e estadual, buscando criar novos indicadores para ampliar a sustentabilidade ambiental, social e econômica da agricultura brasileira.
Para esse desafio inédito trazido pelas informações do CAR, não existem soluções metodológicas de prateleira, nem consagradas empiricamente. A equipe do GITE, em particular o seu grupo analistas de geoprocessamento e de tecnologia da informação construíram, testaram e validaram progressivamente um método para obtenção dos resultados desejados. Ele foi testado inicialmente em alguns estados da federação, depois validado em duas regiões, para finalmente, sempre incorporando novas rotinas que ampliavam sua performance e traziam ganhos de precisão, ser aplicado de forma homogênea a todos municípios, microrregiões, estados e regiões do país, reunidos no CAR até dezembro de 2016.
O aperfeiçoamento desses métodos desenvolvidos no GITE procede, tanto em função da avalição e crítica dos resultados numéricos e cartográficos obtidos, submetidos ao exame de pares e parceiros nessa pesquisa, como em função de novas formas de disponibilização dos dados pela equipe do Serviço Florestal Brasileiro responsável pelo SICAR. Provavelmente duas novas quantificações deverão ser realizadas: uma no segundo semestre de 2017 e outra no início de 2018, após a provável conclusão do período de cadastramento de imóveis rurais no CAR.
A seguir apresenta-se um fluxograma com 16 etapas ou fases metodológicas desenvolvidas pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa. Logo a seguir, para cada uma dessas 16 etapas, é detalhado, de forma circunstanciada (quase um tutorial), como elas foram realizadas.
No fluxograma abaixo são mostradas as fases realizadas no processamento dos dados do CAR visando detectar, identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas de vegetação preservadas nos imóveis rurais cadastrados.
ESTIMATIVA ARITMETICO-ESTATÍSTICA DAS ÁREAS DE VEGETAÇÃO PRESERVADA NOS RESÍDUOS DE IMÓVEIS RURAIS DO CAR ESTADUAL NÃO INTEGRADOS NO SICAR NACIONAL
A primeira etapa deste procedimento baseou-se no uso da quantificação numérica dos imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016, obtida na base de dados do Serviço Florestal Brasileiro e nas medições cartográficas e cálculos por geoprocessamento das áreas de vegetação preservada no conjunto dos imóveis rurais cadastrados no SICAR.
Numa segunda etapa, a estimativa aritmetico-estatística das áreas de vegetação preservada nos resíduos de imóveis rurais do CAR estadual não integrados no SICAR nacional demandou o cálculo das áreas totais desses resíduos por estado, região e país. Através das tabelas em Excel, foi possível calcular os valores absolutos e relativos desse diferencial ou residual de áreas dos cadastros estaduais não integradas ao SICAR nacional.
Os resultados desses cálculos diferem dos obtidos na dimensão numérica e territorial dos imóveis rurais cadastrados no CAR, apresentados anteriormente, por não integrarem as informações dos estados do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, já que elas não foram incorporadas ao SICAR e, portanto, não permitem o mapeamento e o cálculo das áreas de vegetação preservada. A tabela 1 ilustra a dimensão absoluta e relativa desses resíduos em cada um dos 25 estados pesquisados.
Tabela 1. Diferença ou Resíduo de Imóveis Rurais do CAR não integrados ao SICAR 2016.
Tabela
Tabela
O cálculo dos resíduos mostra um valor total da ordem de 18%. Em outras palavras, a área de vegetação preservada pode ser mapeada e calculada para cerca de 82% da área da população de imóveis rurais cadastrados no CAR. A área a ser estimada é a do resíduo não cadastrado no SICAR, avaliado em 18%. Essa porcentagem de resíduo territorial não cadastrado no SICAR em 70% dos estados ficou abaixo de 20% da área total e variou entre 3% e 10% em metade os estados. Apenas Maranhão, Rio de Janeiro e Amazonas apresentaram um resíduo acima de 40%.
A tendência da dimensão territorial desse resíduo é de diminuir ao longo do tempo, com a disponibilização no SICAR Nacional dos dados já existentes no CAR dos estados e com a continuidade do cadastramento até o final de 2017. Com o tempo, seria normal que a área desses resíduos tendesse a zero. Isso já pode ser observado no aumento relativo do número e da área dos imóveis cadastrados apresentados no Boletim Informativo do CAR de maio de 2017. Esse boletim apresenta uma primeira totalização dos dados incorporados no SICAR entre janeiro e abril de 2017. A título de comparação, com relação ao referencial do Censo Agropecuário de 2006, a falta de imóveis cadastrados no Nordeste caiu de 66% para 62%. No tocante à área cadastrada, no mesmo quadrimestre, o déficit da região Sul caiu de 7% para 6% e no Nordeste de 27% para 23,5% (Fig. 37).
Fonte: Números do CAR - SFB
Finalmente, considerando a hipótese estatística que as áreas cadastradas no SICAR são uma subpopulação amplamente majoritária (80%) da população total cadastrada no CAR; considerando também que o resíduo da população do CAR não cadastrado no SICAR é minoritário (20%) e deveria manter as características da população estatística inicial; considerando que as áreas de vegetação nativa preservadas puderam ser mapeadas e calculadas no conjunto da subpopulação do SICAR, que representa mais de 80% das áreas cadastradas no CAR; decidiu-se estimar a área de vegetação preservada nos resíduos dos imóveis rurais do CAR de cada estado, ainda não integrados ao SICAR nacional em dezembro de 2016, através de uma regra aritmética de mera proporcionalidade. Em cada estado, aplicou-se a taxa verificada de vegetação nativa preservada nos imóveis cadastrados no SICAR ao conjunto do resíduo da área dos imóveis do CAR ainda não incorporados ao SICAR nacional.
A soma das áreas de vegetação preservadas calculadas e mapeadas (SICAR) com a área estimada de vegetação preservada no resíduo de imóveis do CAR permitiu obter um valor da área total de vegetação preservada por estado, região e país.
RESULTADOS NUMÉRICOS E CARTOGRÁFICOS DO CAR
Em que medida o cadastro atual do CAR representa o número de agricultores existentes no Brasil e as áreas exploradas e preservadas pela agricultura? A base de dados do SICAR, a publicação mensal dos boletins do CAR e as análises realizadas pelo GITE da Embrapa permitiram uma boa aproximação da dimensão numérica e territorial atingida pelos imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016.
DIMENSÃO NUMÉRICA: IMÓVEIS RURAIS CADASTRADOS NO CAR
A principal referência sobre o número de imóveis rurais do Brasil é o último Censo Agropecuário de 2006. Este levantamento do IBGE registrou 5.175.636 estabelecimentos agrícolas no Brasil em 2006. Os conceitos de imóvel rural do CAR e o de estabelecimento agropecuário do IBGE são bastante próximos, o que permite alguma comparação numérica e territorial. Os números do Censo de 2006 serão utilizados a seguir como referencial para avaliar a dimensão numérica dos imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016.
PAÍS E REGIÕES
Até dezembro de 2016, 3.923.689 imóveis rurais estavam cadastrados no CAR, 76% do esperado, tomando-se o número de estabelecimentos agrícolas do Censo de 2006 como base, conforme observado na Tabela 1. Esse número inclui os imóveis cadastrados no CAR estadual do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, informação disponível nos Boletins Informativos do CAR do Serviço Florestal Brasileiro. Esse aparente deficit de 24% de imóveis não cadastrados não é nacional. A análise dos dados indica que ele ocorre apenas na região Nordeste, onde somente 34% dos imóveis rurais haviam se cadastrado tomando-se o número de estabelecimentos agrícolas do Censo de 2006 como base. Nas outras regiões do país houve um aumento no número de imóveis rurais que variou entre 8% (Sudeste) e 23% (Norte).
Tabela 1. Comparação do número de estabelecimentos agropecuários no Censo 2006 com o número de imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016 por regiões e no país.
Tabela 1
ESTADOS DA FEDERAÇÃO
A diferença entre o número estabelecimentos agrícolas levantados pelo Censo de 2006 e o número de imóveis rurais cadastrados no CAR foi quantificada para cada estado da Federação (Tabela 2). Em azul estão os 13 estados em que o número de imóveis rurais "aumentou", considerando-se os dados obtidos até dezembro de 2016. No caso do Amapá, este "aumento" teria sido de 224%, o que provavelmente indica sobrecadastros. Em vermelho está o restante dos estados em que houve a "redução" no número de imóveis rurais, incluindo grande parte do Nordeste onde o registro no CAR está muito atrasado. No caso da Bahia, por exemplo, essa "redução" seria de 84%, o que evidentemente não corresponde à realidade. Mas, todos esses números deverão ser alterados com a continuidade do cadastramento até dezembro de 2017. Então será possível agregar-se o resultado de mais um ano de cadastramento aos dois anos realizados até 2016.
Tabela 2. Comparação do número de estabelecimentos agropecuários no Censo 2006 com o número de imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016 por estado.
Tabela 2
DIMENSÃO TERRITORIAL: ÁREA DOS IMÓVEIS RURAIS CADASTRADOS NO CAR
A área dos imóveis no CAR, cerca de 80% do total dos estabelecimentos agrícolas levantados no Censo de 2006, já totalizou 399.233.862 ha. Esse número inclui a área total dos imóveis cadastrados no CAR estadual do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, informação disponível nos Boletins Informativos do CAR do Serviço Florestal Brasileiro. A área apropriada pela agricultura teria crescido 74.319.653 ha (20%) em 10 anos. Nesse caso, houve ou ainda há redução da área cadastrada em relação à do Censo de 2006 nas regiões Sul e Nordeste
PAÍS E REGIÕES
Tabela 3. Comparação da área dos estabelecimentos agropecuários no Censo 2006 com a área de imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016 por regiões e no país.
Áreas
ESTADOS DA FEDERAÇÃO
A diferença entre a área dos estabelecimentos agrícolas levantados pelo Censo de 2006 e a área dos imóveis rurais cadastrados no CAR foi quantificada para cada estado da Federação (Tabela 4). Em azul estão os 13 estados em que a área dos imóveis rurais "aumentou". No caso do Amazonas, este "aumento" teria sido de 560%!. Em vermelho está o restante dos estados em que houve a "redução" na área total de imóveis rurais. Essa lista inclui estados de todas as regiões, mas principalmente do Nordeste. No caso da Bahia, essa "redução" foi de 57%. Como já foi assinalado, esta totalização inclui os imóveis cadastrados no CAR estadual do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, graças à informação disponível nos Boletins Informativos do CAR do Serviço Florestal Brasileiro. Mas todos esses números deverão ser alterados com a continuidade do cadastramento até dezembro de 2017.
Tabela 4. Comparação da área dos estabelecimentos agropecuários no Censo 2006 com a área dos imóveis rurais cadastrados no CAR até dezembro de 2016 por estado.
Tabela 4
Figura 1
Figura 1. Área ocupada no Brasil pelo conjunto dos imóveis rurais cadastrados no SICAR até dezembro de 2016.
Como já foi sinalizado, o cadastramento dos imóveis rurais prossegue no CAR dos estados até dezembro de 2017. Da mesma forma, a migração dos dados do CAR dos Estados para o SICAR nacional também seguirá acontecendo ao longo de 2017. Na figura 1 pode ser observado o aumento relativo do número e da área dos imóveis cadastrados apresentados no Boletim Informativo do CAR de maio de 2017. Esse boletim apresenta uma primeira totalização dos dados incorporados no SICAR entre janeiro e abril de 2017. A título de comparação, com relação ao referencial do Censo Agropecuário de 2006, a falta de imóveis cadastrados no Nordeste caiu de 66% para 62%. No tocante à área cadastrada, no mesmo quadrimestre, o déficit da região Sul caiu de 7% para 6% e no Nordeste de 27% para 23,5% (Fig. 2).
Figura 2
DIMENSÃO CARTOGRÁFICA: ÁREAS DE VEGETAÇÃO PRESERVADA NOS IMÓVEIS RURAIS CADASTRADOS NO CAR
SÍNTESE NACIONAL
Apresentam-se a seguir os resultados obtidos no mapeamento e na quantificação das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa para cada estado da federação, obtidos pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica GITE da Embrapa. Eles correspondem ao principal objetivo desta pesquisa e permitem confirmar suas hipóteses. A unificação cartográfica homogênea de todas as áreas de vegetação preservadas no interior dos imóveis rurais e cadastradas no SICAR até dezembro de 2016 pode ser observada na figura 3. Clicando-se no mapa é possível ampliar a visualização em locais de interesse.
Figura 3
Cabe destacar que, graças os métodos inovadores desenvolvidos pela equipe do GITE, no caso das áreas preservadas medidas e calculadas, trata-se de um resultado líquido do qual foram expurgadas, até onde foi possível, as sobreposições, as duplicidades, as anomalias e outros, conforme detalhado na parte metodológica.
Os resultados ainda não estão completos. Até maio de 2017, em que pese a existência de 37.608 agricultores cadastrados no CAR estadual do Mato Grosso do Sul e 40.828 agricultores cadastrados no CAR estadual do Espírito Santo, seus dados não estavam disponíveis no SICAR. Nos resultados apresentados a seguir não constam, por ora, as informações do Espírito Santo e do Mato Grosso do Sul. Quando esses dados estiverem disponíveis no SICAR, os cálculos serão realizados pela equipe do GITE e incorporados a esse website. Nesse sentido, o valor absoluto das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis em todo o país, segue subestimado.
SÍNTESE ESTADUAL
Uma síntese estadual dos resultados obtidos nesta pesquisa pode ser observada na Tabela 5, com informações sobre: área do Estado; áreas dos imóveis rurais no CAR 2016; área dos imóveis rurais no SICAR 2016; cálculo da área destinada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais do CAR migrados ao SICAR (2016); estimativa da área destinada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais do CAR não migrados ao SICAR (2016); total da área destinada à preservação da vegetação nativa mapeada e estimada nos imóveis rurais (2016) e % da área destinada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais.
Tabela 5. Análise das áreas cadastradas no CAR e SICAR e das áreas de vegetação preservada nos imóveis rurais de 24 estados e o Distrito Federal*, até dezembro de 2016.
Tabela 5
ESTADOS E MICRORREGIÕES
Para 24 estados da federação e o Distrito Federal são apresentados a seguir, individualmente, dados numéricos e mapas que ilustram a repartição territorial das áreas cadastradas no SICAR e a repartição territorial das áreas preservadas nos imóveis rurais do SICAR.
A seguir apresenta-se o detalhamento das informações até dezembro de 2016 para cada estado da federação, com exceção do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo. Cabe relembrar que o cadastramento dos imóveis rurais prossegue até dezembro de 2017. Para obter os dados basta clicar no mapa no estado de interesse ou na lista ao lado.
Mapa do Brasil
Estados e Microregiões
A equipe do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) também mediu e calculou as áreas preservadas pelos imóveis em cada uma das microrregiões homogêneas do Brasil. Uma microrregião é, de acordo com aConstituição brasileira de 1988 (art. 25, §3°), um agrupamento de municípios limítrofes. Sua finalidade é integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum, definidas por lei complementar estadual. As microrregiões são utilizadas pelo IBGE para fins estatísticos e foram definidas com base em similaridades econômicas e sociais e dividem os diversos estados da federação brasileira. No Brasil, atualmente, existe um total de 558 microrregiões. Elas possuem limites geográficos bastante estáveis ao longo do tempo, são utilizadas para fins estatísticos e não constituem, portanto, uma entidade política ou administrativa. O detalhamento das áreas preservadas mapeadas e medidas em cada microrregião de cada um dos 25 estados, também está disponível para consulta em tabela específica, estado por estado.
A recuperação dessas tabelas para as microrregiões por estado, em Excel por exemplo, permite obter os valores totais para cada uma das 137 mesorregiõesbrasileiras e também para outros recortes territoriais que tenham como limites microrregiões.
BRASIL
Apresentam-se a seguir os resultados obtidos no mapeamento e na quantificação das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa para o Brasil, obtidos pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica GITE da Embrapa, com os dados disponíveis no SICAR até dezembro de 2016.
Como já foi sinalizado anteriormente, os dados ainda não estão completos, pois não recobrem a totalidade do território nacional (851.576.705 ha), dada a ausência no SICAR dos dados do CAR estadual do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, o que reduz temporariamente a área abrangida nesta análise (815.205.322 ha) em 4%.
A tabela 6 apresenta as totalizações das áreas do Estado, das áreas dos imóveis rurais no CAR 2016, das áreas dos imóveis rurais no SICAR 2016, das áreas calculadas de vegetação preservada nos imóveis rurais do CAR migrados ao SICAR (2016), das áreas estimadas de vegetação preservada nos imóveis rurais do CAR não migrados ao SICAR (2016), das áreas de vegetação preservada mapeada e estimada nos imóveis rurais (2016) e % da área de vegetação preservada nos imóveis rurais.
Tabela 6. Análise das áreas cadastradas no CAR e SICAR e das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais do Brasil, até dezembro de 2016.
Análise de áreas
Os números obtidos indicam um total de área destinada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais de 176.806.937 ha, o que equivale a cerca de 20,5% do território nacional (ou cerca de 22% quando exceptuadas as áreas dos estados Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo).
A figura 4 ilustra a repartição territorial das áreas totais ocupadas pelos imóveis rurais cadastrados no SICAR até dezembro de 2016.
Áreas dos imóveis rurais
A unificação cartográfica homogênea de todas as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa no interior dos imóveis rurais e cadastradas no SICAR até dezembro de 2016 pode ser observada na figura 5. Clicando-se no mapa é possível ampliar a visualização em locais de interesse.
Figura 5
DISCUSSÃO
Um dos primeiros aspectos a ser considerado na discussão metodológica desta pesquisa é a pertinência do cadastro ambiental dos imóveis rurais, efetivamente realizado e obtido, face à diversidade de seu objeto (a variedade de imóveis rurais existentes no país) e de procedimentos cadastrais (além do sistema proposto pelo Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente, diversos estados, através de suas secretarias de meio ambiente, também desenvolveram sistemas próprios de cadastramento).
Globalmente, a quantidade e a qualidade dos dados obtidos, em tempo tão reduzido, num modo colaborativo de construção do banco de dados, pelo Serviço Florestal Brasileiro atestam a adequação dos critérios, temas e formas de cadastramento dos imóveis proposto e aplicado no CAR.
As aplicações dos dados numéricos e cartográficos, disponíveis para vários recortes espaciais, no planejamento da gestão territorial da agricultura e no incremento de sua sustentabilidade e intensificação produtivas são evidentes.
LIMITES COERENTES DOS IMÓVEIS RURAIS
A longo desta pesquisa foi sempre surpreendente verificar como a reunião de centenas e milhares de imóveis rurais, cadastrados independentemente, por centenas de responsáveis produziam um conjunto de limites bastante coerentes e exatos em termos cartográficos, numa base geodésica homogênea
CONEXÃO DA VEGETAÇÃO PRESERVADA NA REDE HIDROGRÁFICA
Os mapas de síntese realizados dos remanescentes de vegetação preservada nos imóveis rurais de cada estado da federação mostram uma grande coerência nos padrões de repartição, com conexão e continuidade das formações vegetais nativas ao longo da rede hidrográfica
BIOMAS NÃO FLORESTAIS
Especificamente, quanto aos resultados, quando considerados os diferentes biomas, surgem algumas dificuldades e imprecisões no caso das formações vegetais nativas de natureza claramente não florestal. Dado o foco do CAR no combate ao desmatamento e na recomposição de áreas desmatadas, os instrumentos empregados mostraram-se pouco adequados para o cadastramento ambiental de imóveis rurais que conservam e exploram vegetações típicas e não florestais da Pampa, do Pantanal, dos campos de altitude, da caatinga e dos cerrados. No caso da pampa ocorreu até uma judicialização dessa questão.
Nesses biomas, dominados pela atividade pecuária extensiva, muitos produtores registraram suas áreas de pastagens nativas como áreas consolidadas. Isso leva a subestimar as áreas de vegetação nativa existentes nesses biomas. Isso fica patente no caso do estado do Rio Grande do Sul em que as microrregiões da Pampa, marcadas por grandes extensões de vegetação nativa, aparecem como as que menos apresentam áreas preservadas.
Áreas protegidas
O cálculo futuro das áreas de vegetação nativa existentes no mundo rural nesses biomas predominantemente não florestais, como na Caatinga e nos Cerrados, deveria considerar, além da vegetação protegida e preservada existentes, a vegetação conservada nas pastagens nativas.
A equipe do GITE em colaboração com outras Unidades de pesquisa da Embrapa começa a tratar desse tema, de forma complementar, para que essas porções de vegetação nativa, muito significativas nesses biomas, a ponto de denomina-los e há quatro séculos são objeto de exploração pastoril extensiva por pequenos e grandes ruminantes domésticos, sejam levadas em consideração e contabilizadas de forma circunstanciada. Uma proposta de parceria com o Serviço Florestal Brasileiro para a análise desses biomas está em discussão.
ASSENTAMENTOS AGRÁRIOS E QUILOMBOLAS
Outro tema a ser discutido e aperfeiçoado no futuro quanto a métodos e resultados é a questão do cadastramento de áreas diferenciadas no mundo rural, como: os mais de 9.300 assentamentos de reforma agrária com quase 89 milhões de hectares e um milhão de lotes e famílias; as quase 300 comunidades quilombolas que ocupam mais de 2.720.000 de hectares, bem como alguns tipos de grandes áreas extrativistas da Amazônia, não consideradas como unidades de conservação. Ocorreram diversos problemas, erros, sobreposições e insuficiência de informações e cadastros nessas áreas diferenciadas.
Assentamentos da Reforma Agrária + Quilombolas
Esse desafio de aperfeiçoamento na análise desses resultados será objeto de uma avaliação particular pela equipe do GITE Embrapa, em parceria com técnicos do MDSA e do INCRA. É possível que boa parte desses problemas possam ser sanados até o final do ano de 2017.
VEGETAÇÃO NATIVA: DA DECLARAÇÃO PARA A MEDIDA
Finalmente, no tocante às áreas destinadas à preservadação da vegetação existentes, medidas e estimadas nos imóveis rurais, trata-se de um resultado inédito e fundamental. Até então, em bases fundiárias, apenas os dados do Censo forneciam informações declaratórias, sem base cartográfica e em intervalos de tempo muito dilatados (10 anos). Agora o planejamento rural pode dispor de números, mapas e fatos, graças aos dados existentes no SICAR e aos métodos de tratamento geocodificados dessa informação desenvolvidos e testados pela equipe técnica do GITE Embrapa.
O ineditismo e a complexidade desses procedimentos levaram à apresentação de um verdadeiro tutorial para tratamento dos dados, com cerca de 30 páginas e muitas ilustrações, abordando 16 fases metodológicas no âmbito deste website. Mas, a maioria dos números apresentados nesta pesquisa nunca será definitiva, nem permanente, por duas razões principais:
Em primeiro lugar, porque prossegue o cadastramento de imóveis rurais que ainda poderá agregar ao SICAR algumas centenas de milhares de imóveis. No momento da realização dessa primeira etapa da pesquisa, os dados do CAR dos estados do Mato Grosso do Sul e Espírito Santo ainda não haviam sido integralmente incorporados ao SICAR e parte das superfícies de vegetação nativa foram estimadas através de dados complementares. Além disso, parte dos imóveis já cadastrados no CAR de todos os estados ainda não migrou para o SICAR. Isso vem ocorrendo de forma muito diferenciada e também dependente de janelas de acesso ao sistema nacional, entre outras razões.
Em segundo lugar, de forma constante, propriedades rurais são vendidas e compradas. Disso resulta tanto a divisão de imóveis rurais em novos CPFs ou CNPJs e, portanto, em novos registros no CAR, como a união e ampliação da área de alguns imóveis, o que também exige ajustes no CAR. Por essas razões, mensalmente, registros saem e entram no acervo do CAR. Finalmente, a operacionalização dos programas de regularização ambiental (PRA) nos estados também traz e trará mais alterações nas áreas de vegetação preservada cadastradas dos imóveis rurais, em geral, no sentido de aumentá-las.
Em resumo, como o cadastramento dos imóveis no CAR ainda não foi totalmente concluído e a migração dos dados para o sistema nacional (SICAR) ainda prossegue, não é possível uma homogeneidade temporal em todas as análises, nem um fechamento numérico definitivo. A equipe do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa Monitoramento por Satélite realizará atualizações semestrais e até mensais nos dados desse website, sempre devidamente sinalizadas, com base do que for sendo incorporado e disponibilizado no banco de dados do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente.
CONCLUSÕES
Esta pesquisa da Embrapa pode revelar, de forma inédita, quantificada e circunstanciada, um dos papéis fundamentais da agricultura na preservação ambiental no Brasil: a manutenção de extensas áreas destinadas à preservação da vegetação nativa no interior dos imóveis rurais, graças ao mapeamento e ao registro realizado no âmbito do Cadastro Ambiental Rural (CAR), promovido pelo Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente.
O objetivo principal e inicial desta pesquisa de identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros, a partir dos dados cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, o SICAR, foi plenamente atingido.
MAPAS
A unificação cartográfica homogênea de todas as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa no interior dos imóveis rurais e cadastradas no SICAR até dezembro de 2016 pode ser observada na figura 1. Clicando-se no mapa é possível ampliar a visualização em locais de interesse.
Áreas de vegetação preservadas nos imóveis rurais
Graças aos resultados obtidos e disponibilizados neste site, foi possível quantificar e avaliar a dimensão numérica e espacial dos imóveis rurais cadastrados no CAR e SICAR até dezembro de 2016, em diversos recortes territoriais (microrregiões, estados, regiões e país) e sua representatividade quanto ao referencial representado pelos dados de estabelecimentos agropecuários existentes no Censo do IBGE de 2006. Um exemplo da densidade e da ampla repartição das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais pode ser observado no caso de Santa Catarina (Fig. 2). Essa cartografia foi realizada e está disponível nesse website no item Resultados para 24 estados da federação e o Distrito Federal.
Áreas preservadas nos imóveis rurais
NÚMEROS
O projeto unificou e cartografou (em escala e projeção homogêneas) todas as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa cadastradas em cada um dos imóveis rurais, registradas no CAR a título de reserva legal, áreas de preservação permanente, vegetação excedente etc., por microrregião, estado, região e país, eliminando o máximo possível de sobreposições de limites, duplicidades, erros, incoerências de localização etc., graças aos métodos de geoprocessamento definidos e aplicados. Isso permitiu o cálculo preciso, evitando números superestimados da área efetivamente destinada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais cadastrados no SICAR. Complementarmente, foi estimado o total das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa nos resíduos de imóveis rurais registrados no CAR dos estados e que ainda não haviam migrado para o SICAR nacional até dezembro de 2016.
Os resultados obtidos pela abordagem de inteligência e gestão territorial permitiram avançar no sentido de identificar, qualificar, quantificar, cartografar e monitorar o uso das terras e a preservação da vegetação no país e, principalmente, o papel incontornável e insubstituível da agricultura na preservação da vegetação nativa: mais de 176 milhões de hectares preservados no interior dos imóveis rurais, 20,5% do país, ainda sem integrar os resultados do CAR do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo. Em média, a porcentagem da área destinada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros cadastrados no SICAR até dezembro de 2016, correspondia a 47,7% de sua área total. Em outras palavras, na média, os agricultores brasileiros exploram cerca de metade da área de seus imóveis rurais.
VEGETAÇÃO PROTEGIDA E PRESERVADA
A área destinada à preservação da vegetação nos imóveis rurais brasileiros, cadastrados no CAR até dezembro de 2016, é muito superior ao total das áreas de vegetação protegida existentes nas Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCs). As áreas destinadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais correspondem a 20,5% do território nacional enquanto as áreas de vegetação protegida nas Unidades de Conservação, sob a responsabilidade do Instituto Chico Mendes do Ministério do Meio Ambiente, totalizam 13% do território nacional. Nessa categoria não se incluem as Terras Indígenas (TIs), sob a responsabilidade da FUNAI no Ministério da Justiça. Elas que não podem ser confundidas com Unidades de Conservação, nem por sua natureza, nem por seu estado e gestão.
PADRÕES ESPACIAIS DAS ÁREAS PRESERVADAS
Os mapas consolidados pela equipe do GITE permitem visualizar padrões de repartição espacial das áreas destinadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais até então desconhecidos. Uma tipologia desses padrões de repartição espacial da forma, do tamanho e da localização das áreas destinadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais está sendo elaborada pela equipe do GITE. Entre esses padrões, está, por exemplo, a tendência ao aumento da densidade das áreas de vegetação preservada pelos agricultores no entorno de Terras Indígenas e Unidades de Conservação ou ainda como o tamanho das áreas destinadas à preservaçã da vegetação tende a crescer, por exemplo, em direção à Amazônia.
CONEXÕES E RECORTES TERRITORIAIS
Os mapas estaduais e por microrregião das áreas destinadas à preservação da vegetação nos imóveis rurais, bem como os bancos de dados geocodificados associados, permitirão um apoio relevante na avaliação da funcionalidade desses remanescentes como rede de conexão entre ecossistemas e agroecossistemas, na análise de recortes espaciais diferenciados como bacias hidrográficas, regiões geoeconômicas etc.
Os mapas da vegetação preservada nos imóveis rurais também revelam o esforço dos pequenos agricultores, em que pese suas limitações financeiras e econômicas, em recuperar a vegetação ao longo da rede hidrográfica, como ilustra a figura abaixo no estado de Rondônia
Todas essas informações numéricas e cartográficas, disponíveis em diversos recortes territoriais, elaboradas pelo Grupo de Inteligência Territorial Estrategica (GITE) da Embrapa com base nos dados do SICAR podem servir de elemento federador para trabalhos conjuntos de Secretarias Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e de Agricultura, bem como para programas e ações entre instituições governamentais e organizações não governamentais, principalmente na temática do desenvolvimento sustentável.
O DESAFIO DA GESTÃO DAS ÁREAS PRESERVADAS
Essas áreas destinadas à preservação da vegetação cadastradas por cada imóvel rural no SICAR representam também um compromisso formal e administrativo de conservação ambiental assumido por parte de todos os agricultores. Compromisso devidamente registrado e monitorado. Ele se expressa em áreas de preservação permanente, reservas legais, vegetações e remanescentes excedentes, os quais englobam diversos ecossistemas lacustres e palustres, com sua flora, fauna e biodiversidade específica. Já são mais de 176 milhões de hectares destinados à preservação em todo o país e cuja extensão e funcionalidades deverão aumentar com a operacionalização do Programa de Regularização Ambiental - PRA. Muitas dessas áreas destinadas à preservação, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, encontram-se situadas em territórios de agricultura altamente intensificada
Valoração econômica, custo de manutenção e pagamento de serviços ambientais são três temas relevantes a serem associados com a gestão futura dessas áreas de vegetação preservada. A equipe do GITE, em colaboração com outras unidades da Embrapa e da Academia, deu início a um processo de discussão sobre a valoração econômica dessas áreas destinadas à preservação da vegetação (custo oportunidade, inicialmente) e também do custo de sua manutenção, muito variável em cada estado do Brasil. Hoje, eles recaem e são assumidos integralmente pelos produtores rurais, sem qualquer compensação financeira significativa. O tema do pagamento de serviços ambientais também poderá ser ampliado com base nos resultados dessa pesquisa, em diversos contextos territoriais, e a partir de exemplos que começam a surgir no país.
ORDENAMENTO TERRITORIAL
Como já foi evocado na Discussão, no tocante às áreas destinadas à preservação da vegetação existentes, medidas e estimadas nos imóveis rurais, trata-se de um resultado inédito e fundamental. Até então, em bases fundiárias, apenas os dados do Censo forneciam informações declaratórias, sem base cartográfica e em intervalos de tempo muito dilatados (10 anos).
Agora, o planejamento rural e o ordenamento territorial podem dispor de números, mapas e fatos, graças aos dados existentes no SICAR, aos métodos de tratamento geocodificados dessa informação desenvolvidos e testados pela equipe técnica do GITE Embrapa e aos resultados numéricos e cartográficos produzidos e disponibilizados neste website. Outros dados complementares, numéricos e cartográficos, mais técnicos e detalhados, em diversos formatos, poderão ser fornecidos diretamente através de entendimentos diretos com a equipe do GITE no âmbito de parcerias institucionais.
Outras informações disponíveis no banco de dados do CAR, como áreas consolidadas, tamanho do módulo fiscal, áreas de interesse social etc., ainda deverão ser exploradas e trabalhadas no futuro pela equipe do GITE, em colaboração com outras Unidades da Embrapa. Da mesma forma, outros recortes territoriais poderão ser analisados. Em breve será disponibilizada a análise do CAR da região do MATOPIBA, assim como a análise do bioma Cerrados. Os remanescentes de vegetação preservados nos imóveis rurais são apenas uma parte das informações geocodificadas e valiosas contidas nos registros do CAR.
DINÂMICA TEMPORAL DO CAR
O ineditismo e a complexidade desses procedimentos desenvolvidos pela equipe do GITE levaram à apresentação de um verdadeiro tutorial para tratamento dos dados, com muitas páginas e ilustrações, abordando 16 fases metodológicas percorridas, no âmbito deste site. Mas, a maioria dos números apresentados nesta pesquisa nunca será absolutamente definitiva, nem permanente, por duas razões principais:
Em primeiro lugar, porque prossegue o cadastramento de imóveis rurais que ainda poderá agregar ao SICAR algumas centenas de milhares de imóveis. No momento da realização dessa primeira etapa da pesquisa, os dados do CAR dos estados do Mato Grosso do Sul e Espírito Santo ainda não haviam sido integralmente incorporados ao SICAR e parte das superfícies de vegetação nativa foram estimadas através de dados complementares. Além disso, parte dos imóveis já cadastrados no CAR de todos os estados ainda não migrou para o SICAR. Isso vem ocorrendo de forma muito diferenciada e também dependente de janelas de acesso ao sistema nacional, entre outras razões.
Em segundo lugar, de forma constante, propriedades rurais são vendidas e compradas. Disso resulta tanto a divisão de imóveis rurais em novos CPFs ou CNPJs e, portanto, em novos registros no CAR, como a união e ampliação da área de alguns imóveis, o que também exige ajustes no CAR. Por essas razões, mensalmente, registros saem e entram no acervo do CAR. Finalmente, a operacionalização dos programas de regularização ambiental (PRA) nos estados também traz e trará mais alterações nas áreas de vegetação preservada cadastradas dos imóveis rurais, em geral, no sentido de aumentá-las.
Em resumo, como o cadastramento dos imóveis no CAR ainda não foi totalmente concluído e a migração dos dados para o sistema nacional (SICAR) ainda prossegue, não é possível uma homogeneidade temporal absoluta em todas as análises, nem um fechamento numérico definitivo. A equipe do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa Monitoramento por Satélite realizará atualizações semestrais e até mensais nos dados desse website, sempre devidamente sinalizadas, com base do que for sendo incorporado e disponibilizado no banco de dados do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente.
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AUTORIA
COMO CITAR
MIRANDA, E. E. de; CARVALHO, C. A. de; OSHIRO, O. T.; MARTINHO, P. R. R. Agricultura e Preservação Ambiental no Brasil: Primeira Análise do Cadastro Ambiental Rural. Disponível em: <https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/car/>. Acesso em: ...
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