Precisamos falar sobre tratamento de resíduos Voltar

Você está em: Sustentabilidade » Manejo Sustentável no Brasil » A Sustentabilidade e suas dimensões Publicado em 09/02/2018 às 08:34:29
Foto Ilustrativa

Tema que ainda é motivo de muito debate no setor, desponta como uma das principais preocupações de especialistas.
Mário Sérgio Santos

Você pode ter uma grande preocupação com o plantio de árvores em sua fazenda, mas se não tiver cuidado com a destinação dos resíduos da produção, não será totalmente sustentável. Você pode ter iniciativas para recuperar áreas degradadas, mas ainda assim, se não mantiver uma rotina de tratamento de resíduos, não será 100% sustentável. Você pode até desenvolver o manejo inteiro preservando o meio ambiente, mas se não fechar o ciclo da maneira correta, não terá cumprido toda a lição de sustentabilidade.

Pois é! Nos últimos anos, a expressão 'pecuária sustentável' se tornou um dos conceitos mais usados no setor, ao mesmo tempo em que também se transformou em um dos principais desafios. Principalmente quando o tema é, especificamente, o tratamento de resíduos.

"O produtor rural, na sua maioria, ainda vê o resíduo das suas atividades produtivas como um descarte que a natureza se encarregará da destinação. Está difícil convencer de que os seus resíduos podem se tornar uma fonte de renda, da qual é dependente seus lucros econômicos", destaca João Antônio Galbiatti, engenheiro agrônomo com pós-doutorado no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

O especialista, que é um dos maiores defensores da causa, acredita que uma série de fatores ainda contribui para que o tratamento residual não seja um conceito amplamente difundido na categoria.

"A grande dificuldade está na falta de políticas públicas incentivadoras, principalmente financeiras. Em segundo lugar, a falta de conhecimento e, em terceiro, o descrédito para com os governantes", ressalta.

Galbiatti destaca ainda que uma série de ferramentas e tecnologias já existe e engloba desde sistemas de tratamentos sofisticados e de custo operacional caro, até outros mais simples. O valor do investimento vai depender do tipo e do volume de resíduos, objetivos do tratamento e poder aquisitivo do proprietário.

Especificamente para a pecuária, a recomendação dele é pelo uso de biodigestores. "Trata-se de uma câmara onde se processa a degradação da matéria orgânica. O equipamento pode apresentar formato cilíndrico ou retangular, em sua maioria, acompanhado de uma campânula ou bolsa flexível acumuladora do gás desprendido da biomassa. Este modelo de tratamento enriquece o resíduo, transformando-o em biofertilizante e ainda permite a produção de biogás. Ambos são de valores econômico e ambiental expressivos", garante.

 

Sobre as vantagens desses dois produtos, o especialista ressalta que a utilização de biogás proporciona economia de energia, preservação e saneamento ambiental, uma vez que pode substituir o gás liquefeito de petróleo (GLP) e a madeira, nos processos de cocção, resfriamento, aquecimento e iluminação. Enquanto o biofertilizante atua nutricionalmente sobre o metabolismo vegetal, possui alta atividade microbiana e bioativa, sendo capaz de proporcionar maior resistência à planta contra agentes externos atuando, também, na ciclagem de nutrientes e melhoria das propriedades físicas do solo.

O consultor da ABCZ para assuntos sustentáveis, João Gilberto Bento, também destaca as vantagens do sistema, mas ressalta que essa é apenas uma das possibilidades que o criador tem.

"O Brasil é um país muito heterogêneo quando se trata de perfil de propriedade. E para cada situação você terá uma solução diferente. Nesse sentido, há de se considerar a quantidade de resíduos que você vai produzir para depois identificar o tipo de tratamento que você irá trabalhar. A própria compostagem, que é uma solução simples, é a mais indicada para determinados perfis", explica.

Ele destaca ainda que o tratamento de resíduos é apenas um dos itens que o produtor rural precisa estar atento, nessa busca por uma gestão ambiental da propriedade. E isso inclui, claro, outros pontos, como o descarte correto de embalagens, que já são obrigações sanitárias. O problema, na visão dele, é que o assunto ainda é pouco difundido e debatido no setor.

"A produção rural se modernizou, e nesse movimento é natural que o pecuarista gere mais resíduos. O que observamos é que, de maneira geral, a gestão ambiental da propriedade passa por uma série de dificuldades no sentido de gerar consciência. Até porque ela começou de uma maneira muito traumática, por conta de algumas questões impostas pelo Código Florestal, por exemplo. Por isso é preciso que se desenvolva uma conscientização geral", acredita.

A boa notícia é que, pelo menos aos poucos, essa consciência está 'pegando o caminho da roça', e tem se tornado cada vez mais um pensamento coletivo. "O que nós percebemos é que essa percepção ambiental do pecuarista já está, aparentemente, melhorando no sentido de entender que não se trata apenas de uma questão legal, mas também de consciência ambiental", comemora Bento.

 

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Conhecendo alguns conceitos

Biodigestor: equipamento de armazenamento e transformação de resíduos da pecuária em biogás e biofertilizante;

Esterqueira: estrutura (normalmente de baixo custo) utilizada para armazenagem e transformação de resíduos sólidos da pecuária em adubo, por meio da fermentação;

Chorumeira: destinada a resíduos líquidos dos currais e carretas. Possui as mesmas características e funcionalidades da esterqueira;

Composteira: sistema para destinação de resíduos orgânicos, incluindo sobras de alimentos e de plantação, que também resulta em adubo por meio de processo natural.

 

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Escolhendo a melhor opção

Já deu para perceber que, quando falamos em tratamento de resíduos, não existe uma única receita para todas as propriedades. Nesse sentido, a principal dica, antes de investir, é conhecer bem o contexto em que sua produção está inserida. É fácil!

1º) Analise sua propriedade (tamanho, rebanho e produções complementares);

2º) Identifique os tipos e quantidades de resíduos que são gerados;

3º) Converse com outros pecuaristas que já investiram em propriedades parecidas com a sua;

4º) Lembre-se do reaproveitamento! A maioria dos resíduos pode ser transformada em adubo.

5º) Peça ajuda a técnicos e engenheiros. Informação nunca é demais!

 


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