O agro e seus paradoxos Voltar

Você está em: Sustentabilidade » Assuntos em debate Publicado em 03/04/2018 às 09:42:42
ABCZ

Para onde vão nos levar os paradoxos que emergem dos discursos dos diferen­tes segmentos da socieda­de sobre a produção de alimentos? De um lado, temos o apelo midiático dos grupos ambientalistas, tais co­mo Greenpeace, WWF e afins. Do outro, um planeta bufando de gente (gente que não para de chegar, a uma taxa de 83 milhões por ano, e com demandas tão díspares que parecem irreais).
Por: Luiz Antônio Josahkian, especialista em melhoramento genético da ABCZ- Revista Globo Rural

Para onde vão nos levar os paradoxos que emergem dos discursos dos diferen­tes segmentos da socieda­de sobre a produção de alimentos? De um lado, temos o apelo midiático dos grupos ambientalistas, tais co­mo Greenpeace, WWF e afins. Do outro, um planeta bufando de gente (gente que não para de chegar, a uma taxa de 83 milhões por ano, e com demandas tão díspares que parecem irreais).

 

Existem os que têm um sonho tão simples e justo que dá pena. Só querem ter comida no pra­to uma vez por dia e, acreditem, eles somam mais de 800 milhões de pessoas, que têm pressa, por­que a fome as sentencia à morte a cada 4 segundos.

 

Em outro extremo, temos os medidores de ingestão de calorias diárias, misturados com os adora­dores de orgânicos, os vegetaria­nos e os veganos. E nem vamos considerar a ínfima classe privile­giada, com seus caviares, salmões, camarões e frutas exóticas, porque eles sempre existiram, mas nunca definiram o mundo real.

 

As terras estão cansadas e es­tariam mais não fossem os adu­bos nitrogenados, as novas téc­nicas de plantio, o melhoramento genético das espécies e o manejo racional dos fatores de produção, que juntos nos tiraram da rota de colisão com a fome absoluta. A equação cujos termos são, de um lado, alimentar a humanidade e, de outro, praticar uma agropecuária romântica de subsistência não se resolve nem com os mais sofisti­cados modelos matemáticos.

 

Reina urna hipocrisia confortá­vel embalada pela crer.ça de que somente ser contra a evolução das tecnologias resolve toda a ques­tão, mesmo que continuemos a ser consumidores vorazes.

 

Chegou a hora de tratarmos es­sa questão de forma mais realis­ta e imparcial. Informes de agen­das internacionais de investimen­to apontam os desafios imediatos do agronegócio. No topo da lista do imperdoável, figuram o desma­tamento e a emissão de gases de efeito estufa (aqui a bola da vez é o metano dos ruminantes, core um conveniente esquecimento do CO2 da indústria), seguidos de perto pe­lo controverso uso de produtos ge­neticamente modificados. Na ques­tão animal, o bem-estará a palavra de ordem e, diga-se, corretamente. A prática de confinamentos extre­mos tende a ser abolida. O uso de promotores de crescimento, nos países onde são utilizados, está na mira do consumidor e, por conse­quência, dos investidores. Todas as práticas de manejo que causem mutilações têm seus dias contados e os manejos pré-abate e de abate seguirão de perto o chamado aba­te humanitário.

 

No mundo corporativo, estu­dos indicam que os grandes in­vestimentos são direcionados pa­ra empresas/produtores que ado­tam políticas claras de uso racio­nal da água, da terra, de fontes de energias não renováveis, práticas de bem-estar animal e que respei­tem os direitos trabalhistas. O im­pacto desses aspectos é muito su­perior a outros antes muito cotados, como capacidade de governança e níveis de taxação com impostos.

 

O que isso tudo tem de favorável ao Brasil? Quase tudo, mas precisa­mos anunciar isso ao mundo ao in­vés de aceitar as imposições vindas especialmente dos EUA e da Euro­pa, que historicamente não que­rem concorrência. É preciso alar­dear para o planeta, em letras gar­rafais, que protegemos dois terços de nosso território, que nos supera­mos safra após safra, preservando, cada produtor, no mínimo 20% de sua propriedade. Na empreitada de produzir alimentos, usamos menos de10% do território para atingir vo­lumes anuais capazes de alimentar o mundo pelo menos por seis me­ses. Seguramente, como já dito, se déssemos voz às crianças da Áfri­ca subsaariana, elas diriam "vocês até podem discutir isso, mas pode­mos comer primeiro?".


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