Integração lavoura-pecuária-floresta no contexto das mudanças climáticas
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Publicado em 24/09/2018 às 08:15:52
ARTIGO TÉCNICOIntegração lavoura-pecuária-floresta no contexto das mudanças climáticasKleberson Worslley de Souza - Pesquisador da Embrapa Cerrados
ARTIGO TÉCNICO
Integração lavoura-pecuária-floresta no contexto das mudanças climáticas
Kleberson Worslley de Souza - Pesquisador da Embrapa Cerrados
O Brasil possui grande destaque no setor agropecuário e são crescentes as preocupações com as emissões de gases de efeito estufa (GEE) pelo setor e seus efeitos na mudança do clima. Em relação à bovinocultura de corte, o país possui o maior rebanho comercial, é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial de carne (USDA, 2018). Neste cenário, é de se esperar considerável participação da atividade pecuária nas emissões de GEE, tanto nas emissões totais, como no setor agropecuário.
Segundo as Estimativas Anuais de Emissões de GEE no Brasil (MCTI, 2014), no ano de 2012, o setor agropecuário foi responsável por 37% do total de dióxido de carbono (CO2) equivalente emitido para a atmosfera no país. As emissões de metano (CH4) produzido por fermentação entérica em gado de corte e de leite contribuíram, respectivamente, com 75 e 12% do total das emissões desse gás no setor agropecuário. Dessa maneira, apenas as emissões de CH4, provenientes de fermentação entérica da pecuária de corte, responderam por 17,2% das emissões totais de CO2 equivalente, e se somadas às emissões da pecuária leiteira, o percentual de contribuição de emissão total em CO2 equivalente sobe para 19,9%. Restam ainda as emissões causadas pelas excretas, fezes e urina, as quais emitem N2O após serem depositadas ao solo, o que contribui ainda mais para aumentar as emissões de GEE na atividade pecuária, considerando que esse gás de efeito estufa possui um potencial de aquecimento global 298 vezes superior ao do CO2.
Portanto, há uma grande participação da pecuária brasileira nas emissões de gases de efeito estufa. Não obstante, é notório que a população está cada vez mais informada e vem crescendo sua preocupação em relação à maneira como os alimentos estão sendo produzidos, inclusive quanto à pegada de carbono e ao aquecimento global. Ou seja, questões relacionadas ao meio ambiente e sua sustentabilidade são cada vez mais críticas, especialmente em países mais desenvolvidos para os quais o Brasil exporta carne.
Dessa maneira, sistemas de produção que permitam conciliar produtividade e sustentabilidade ganham destaque e se mostram promissores. A integração lavoura-pecuária-floresta - ILPF é um sistema de produção propício para alcançar produtividade satisfatória e mitigar os gases de efeito estufa da atividade pecuária, proporcionando ainda balanço positivo de carbono. Vários trabalhos citam as vantagens dos sistemas integrados devido ao sinergismo que ocorre entre os componentes, como maior eficiência no uso de fertilizantes e corretivos, refletindo ganhos de produtividade e sustentabilidade.
Em 2012, foi constituído o "Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura", também denominado "Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono)". O objetivo geral deste plano é de promover a mitigação da emissão dos GEE na agricultura no âmbito da Política Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC).
Neste contexto, a Embrapa desenvolveu o conceito "Carne Carbono Neutro" (CCN), que poderá contribuir para fomentar a implementação de sistemas de produção pecuários mais sustentáveis, como o sistema ILPF, especialmente quanto ao aspecto ambiental, com a introdução do componente arbóreo, capaz de neutralizar o metano emitido pelo rebanho, de forma a agregar valor à carne produzida nestes sistemas.
Apesar da importância da pecuária bovina para a sociedade brasileira, as emissões de GEEs vêm estigmatizando a atividade como grande vilã do clima. A integração lavoura-pecuária-floresta consiste em uma alternativa viável do ponto de vista ambiental para tornar a pecuária brasileira neutra quanto a emissão de GEE. Dados ainda preliminares demonstram que apenas 15% da área total de produção de uma fazenda em sistema ILPF seria suficiente para compensar todas as emissões oriundas dos animais em recria (CH4) e da pastagem (N2O), deixando ainda um saldo positivo de carbono na fazenda. Outra maneira seria a distribuição e manutenção de árvores em área total para que se obtenham resultados semelhantes. O arranjo espacial das árvores pode ficar a critério do produtor, observando o que é mais apropriado para sua propriedade, facilitando o manejo de todos os componentes do sistema, mas sempre priorizando a conservação do solo e da água.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU