O Indubrasil que vem do Sul
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Publicado em 08/11/2018 às 08:47:13
O Indubrasil que vem do Sul A raça que rompeu fronteiras há muito tempo mostra qualidades superiores para enfrentar variações extremas de temperatura e segue conquistando novos criadoresMárcia Benevenuto
O Indubrasil que vem do Sul
A raça que rompeu fronteiras há muito tempo mostra qualidades superiores para enfrentar variações extremas de temperatura e segue conquistando novos criadores
Márcia Benevenuto
O efetivo brasileiro de bovinos é de quase 220 milhões de cabeças (IBGE-2016) e o Sul é detentor de um dos maiores rebanhos do país. Na única região onde as raças europeias são predominantes, o gado Zebu conquista cada vez mais espaço e relevância, seja na criação de animais puros para multiplicação de genética melhoradora e venda de touros a campo, seja no cruzamento para produção de lotes de corte ou fêmeas destinadas à reposição e ordenha. Entre as raças indianas, o Indubrasil é uma das mais bem sucedidas. Os animais já são bastante antigos nas fazendas gaúchas e muito conhecidos nas pistas das principais exposições do estado do Rio Grande do Sul.
A Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu (ACGZ) está prestes a completar 3 décadas. A entidade foi criada por um grupo de pecuaristas para a promoção das qualidades das raças e desenvolvimento de projetos e ações para fortalecimento do rebanho que por sua rusticidade é capaz de aguentar topografia acidentada, adversidades na oferta de alimentos, tanto quanto invernos rigorosos e verões extremos.
Nathã Carvalho, Gerente Executivo da associação, conta que o Indubrasil está presente há muito tempo no estado, mas ganhou um impulso nos últimos sete anos quando alguns criadores passaram a registrar mais animais. "Em 2011, o Indubrasil voltou a participar da Expointer, passou a ser mais visto, e suas qualidades atraíram novos criadores. Hoje, o número de associados cresce expressivamente, e temos mantido uma média de 30 animais daqui do estado julgados na Expointer anualmente. Este ano tivemos 27 inscrições", afirma.
A raça Indubrasil foi uma das primeiras, entre as registradas pela ABCZ, a viajar do Triângulo Mineiro para as terras de clima subtropical. A entrada do rebanho sulista no Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ) foi viabilizada pelo selecionador Elair Bachi. O indubrasilista que tem um rebanho de genética diversificada, com cerca de 100 matrizes, foi homenageado com a comenda Mérito ABCZ na última edição. Foram os animais do Sítio Tio Fiorindo, de Paim Filho, que marcaram a retomada da raça na Expointer. "Ao meu ver, o Indubrasil está entre as raças mais rústicas do país. O gado é produtivo e se mantém saudável, suportando chuva e frio, andando no barro e buscando comida da mesma forma que se dá bem no calor de 40 graus que enfrentamos em janeiro. Além disso, nossa topografia é desafiadora. Os bezerros nascem e já tÊm que fazer esforço para subir e descer os morros da propriedade. É uma seleção natural para rusticidade", conta o criador Elair Bacchi, que volta para a pista de Esteio em um formato remodelado. O criador participa agora com animais do Condomínio Morena, formado com o parceiro LuÍs Fernando da Silva Santos.
Os depoimentos sobre as vantagens da raça no Sul também são corroborados pelo selecionador Jairo André Gorczevski, da Fazenda Lobo Guará, de Muitos Capões. "A nossa região chega a temperaturas negativas todo ano. Lá fora nossos animais pegam até neve. O gado Zebu supera as baixas temperaturas com muito mais tranquilidade do que o taurino no calor. É surpreendente a rusticidade da raça para se adaptar e produzir bem sob qualquer tipo de adversidade. Criamos Gir com foco no leite e esperávamos que o Indubrasil agregasse com o potencial para carne. Nossa expectativa foi alcançada com sucesso", afirma Jairo.
No Sítio Figueira, fincado nos limites do município de Santo Antônio da Patrulha não é diferente. Luís Fernando da Silva Santos, o mesmo do condomínio Morena, diz que o plantel da raça Indubrasil foi iniciado há aproximadamente 5 anos, para resgatar uma história de família, mas também dar lucro. A decisão de criar foi de toda a família e a escolha da raça foi pelo gosto pessoal e por razões econômicas. Meu pai cria Indubrasil desde meados do ano 1988, mas nunca teve a preocupação de registrar. Isso acontece muito com a raça, não só no Sul. Então quando eu, minha esposa e meu filho decidimos iniciar a seleção, um dos motivos foi emocional e o outro estratégico. A raça vai muito bem em cruzamentos e nosso foco é atender pecuaristas de corte da região que geralmente trabalham com raças europeias com a venda de tourinhos", explica o criador. O rebanho já conta com 20 fêmeas selecionadas e de alta genética. O criador, que se preocupa com bem-estar animal e mantém um manejo sustentável e adequado às necessidades dos bovinos, usa sêmen dos melhores reprodutores da atualidade e tem um touro de repasse com currículo de raçador. "O Tupi da Natureza já serviu em Central, tem premiação até na ExpoZebu e avaliação genética muito interessante. Acreditamos na formação dos rebanhos com padrões e funções que atendam o mercado moderno e o Indubrasil responde muito bem ao que exigimos dele", complementa o criador. A formação do Indubrasil Figueira teve influências do plantel dos criadores Jairo Gorczevski e Elair Bachi. "O Indubrasil nos proporciona um sentimento importante de realização pessoal, além de grandes amizades. Não apenas na região Sul, como em todo o Brasil", destaca Luiz Fernando.
O avanço da raça Indubrasil no Sul é motivo de comemoração entre criadores de todo o país. "Já faz um tempo que o Rio Grande do Sul figura nos relatórios anuais da ASBIA como o estado que mais compra sêmen dos touros Indubrasil. A seleção no clima subtropical e temperado é muito especializada. Os selecionadores submetem a raça a desafios diferentes do que verificamos em outras regiões. Para efeito de comprovação dos talentos da nossa raça só temos que agradecer e enaltecer esse trabalho dos amigos gaúchos", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil (ABCI), Roberto Fontes Gois.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU