Ruminantes e desertificação Voltar

Você está em: Zebuinocultura » Destaques Publicado em 02/07/2019 às 14:43:37
ABCZ

Luiz Antonio Josahkian - Superintendente Técnico da ABCZ
Professor de Melhoramento Animal da FAZU
Em tempos de tantas críticas aos ruminantes, especialmente aos bois e vacas, sempre apontados como os protagonistas das mudanças climáticas, é sempre bom lembrar-se de contrapontos. Allan Savory, um biólogo rodesiano, afirma exatamente o contrário: manadas e manadas de ruminantes em constante movimento são a única solução para evitar a desertificação do planeta e contribuir para reduzir o aquecimento global. Segundo imagens da NASA, aproximadamente 2/3 do mundo estão em curso avançado de desertificação.

Ruminantes e desertificação

Luiz Antonio Josahkian

Superintendente Técnico da ABCZ

Professor de Melhoramento Animal da FAZU

 

Em tempos de tantas críticas aos ruminantes, especialmente aos bois e vacas, sempre apontados como os protagonistas das mudanças climáticas, é sempre bom lembrar-se de contrapontos. Allan Savory, um biólogo rodesiano, afirma exatamente o contrário: manadas e manadas de ruminantes em constante movimento são a única solução para evitar a desertificação do planeta e contribuir para reduzir o aquecimento global. Segundo imagens da NASA, aproximadamente 2/3 do mundo estão em curso avançado de desertificação.

A causa, segundo Savory, é que nos afastamos temerosamente da forma como a natureza age. O fato é que elefantes, gnus, bois, antílopes, carneiros, dentre outras espécies, aprenderam a viver em bando para se proteger de seus predadores. Aglomerados, eles aumentam suas chances de sobrevivência, mas inevitavelmente a comida acaba depois de ser toda pastejada e receber os dejetos fecais e urinários.

Hora de migrar em busca de novos suprimentos. Essa dinâmica da natureza permite que a vegetação se recupere porque a fase em que ela mais se reduz coincide com a migração das manadas e o início do período seco, tempo ideal para que a vegetação se decomponha biologicamente e se incorpore a terra, evitando a liberação de carbono na atmosfera, um dos causadores do efeito estufa.

Para Savory, tudo o que temos a fazer é mimetizar a natureza introduzindo manadas em áreas em processo de desertificação e deixá-las em movimento. O biólogo tem casos fantásticos de sucesso com a aplicação dessa prática em muitos países, especialmente no continente africano, seu local de origem. Não é um pensamento ortodoxo e nem representa a prática mais usual quando se pensa em conservação de uma área.

Em geral, a primeira atitude é retirar todos os animais dos locais em que se pretende trazer de volta a vegetação natural. O próprio Savory pensava assim, influenciado pela nossa formação acadêmica que se fundamenta nesses conceitos. Em uma de suas palestras o biólogo conservacionista revela que, no início de sua carreira, trabalhando na recuperação de um parque nacional africano, tomou a decisão que ele considera a pior de toda sua vida: eliminar 40 mil elefantes de uma área para que a vegetação se recuperasse. Não recuperou e lhe restou apenas o amargo ônus da matança dos elefantes.

Foi a partir daí que ele se dedicou a encontrar soluções para evitar a desertificação. Deixou de odiar a pecuária e a entendeu plenamente como uma solução e não um problema. Trazida para os sistemas de produção comerciais, o conceito de Savory se aproxima muito da prática do pastejo rotacionado, onde uma alta carga animal é colocada em uma determinada área e movimentada planejadamente, de forma que animal e planta se beneficiem mutuamente. Mas para isso é preciso, além de tecnificação, de disponibilidade de grandes áreas e de grandes rebanhos, dois requisitos que o Brasil já tem de sobra na pecuária bovina.

Seria uma excelente oportunidade para a nossa pecuária se posicionar no cenário mundial com uma agenda positiva, especialmente no cenário ecológico, já que o sistema extensivo é o predominante no país. Nas palavras de Savory, estaríamos apenas mimetizando a natureza, cujo processo dessa aprendizagem simbiótica entre plantas e animais se iniciou há milhões de anos. Que bom seria se os nossos governos se sensibilizassem para essa abordagem e criassem políticas públicas capazes de prover capacitação, treinamento e financiamentos adequados para explorar todo esse nosso potencial de uma pecuária ecologicamente sustentável - algo como uma ampliação mimetizada da natureza em si.

(Originalmente publicado na Revista Globo Rural, n. 402, abril de 2019)


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