Guzerá e o leite A2 Voltar

Você está em: Zebuinocultura » Destaques Publicado em 14/02/2022 às 09:30:16
Arquivo pessoal do criador

Guzerá e o leite A2
Associado da ABCZ desenvolve pesquisa sobre potencial de produção de leite A2 da raça Guzerá

Guzerá e o leite A2

Associado da ABCZ desenvolve pesquisa sobre potencial de produção de leite A2 da raça Guzerá

 

Daniela Miranda

 

O consumo de leite bovino é datado entre 9000 e 8000 a.C. Uma riqueza histórica que ao longo dos anos foi se apresentando capaz de ser ingerida até por aqueles que apresentavam algum tipo de restrição no consumo, sendo ocasionada, em parte, pela digestão da beta-caseína do tipo A1. Nesse sentido, o leite A2 surge como alternativa por possuir somente beta-caseína do tipo A2 que não provoca tais complicações. O produto é produzido por vacas com genótipo A2A2, proveniente, majoritariamente, por animais zebuínos, e que não causa problemas digestivos.

 

O assunto já tem sido amplamente debatido nos últimos anos, mas um recente estudo evidenciou ainda mais o assunto, por investigar a recorrência da beta-caseína A2 no leite oriundo de vacas Guzerá. A raça, que é adaptada ao clima tropical seco e úmido, além de resistente a parasitas, conhecida por se desenvolver bem na seca da região semiárida do Nordeste do Brasil, já havia sido relacionada ao tema, em estudos preliminares. A novidade agora, é uma nova pesquisa, desenvolvida por um associado da ABCZ.

 

Davi Pinheiro Teixeira, que faz parte do quadro de associados da entidade desde os três anos de idade, desenvolveu como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade Federal da Bahia (UFBA) uma pesquisa que comprova que a raça Guzerá tem alto potencial para a produção de leite A2. O estudo foi realizado ao longo dos últimos meses, tendo seus resultados apresentados no primeiro semestre deste ano.

 

"A alta frequência do alelo A2 facilita a seleção assistida por marcadores moleculares. Raças zebuínas e nativas são criadas, em sua maioria, em áreas tropicais. A maior facilidade de produção de leite A2 com elas valoriza a economia local, a conservação de raças e gera um maior empenho do produtor para produzir um leite especial, já que a remuneração no mercado é maior que o leite convencional", afirma Davi Teixeira.

 

Para o desenvolvimento da pesquisa, Davi analisou 283 bovinos da raça Guzerá. Um total de 120 folículos pilosos foram coletados de animais de quatro criadores do estado da Bahia. As propriedades se localizavam nos municípios de Itagibá, Ipiaú, Mundo Novo e Itanagra. Após a coleta, as amostras foram identificadas individualmente com o número de registro da ABCZ, raça, data de nascimento, filiação e sexo dos animais. Foram enviadas para o laboratório Gene Genealógica para genotipagem dos alelos A1 e A2 do gene da beta-caseína.

 

Outros 163 animais foram testados por criadores dos estados de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais para a beta caseína. Em seguida, foram cedidos e incluídos no estudo. Ainda conforme revela o pesquisador, os testes genéticos foram feitos em diversos laboratórios como o Linhagen, Geneal e Raça.

 

"A pesquisa trouxe à tona a natural capacidade da raça Guzerá para a produção de leite A2. Já desconfiávamos disso, pois todas as raças zebuínas têm grande concentração de animais A2A2, na maioria isso chega a mais de 90%, tendo muitas raças com 100% dos animais cujo genótipo é A2A2. Isso permite que a seleção para o genótipo A2A2 seja fácil e rápida, pois a quantidade de animais serem descartados é pequena, sem risco de perda de variabilidade genética", afirma Davi.

 

A frequência dos alelos e dos genótipos foram calculados pelo programa Excel e, em seguida, foram testadas para o equilíbrio de Hardy-Weinberg pelo método do X² (chi-quadrado).

 

Davi ainda explica que os resultados são concordantes com estudos anteriores e indicam maior frequência do genótipo A2A2 em zebuínos que em taurinos. "Essa informação é importante pois valoriza as raças zebuínas, que junto com os cruzados com taurinos são responsáveis pela maior parte da produção de leite na região tropical do globo".

 

Davi ainda destaca que a raça Guzerá é uma importante ferramenta para a produção do leite A2, já que 80% dos animais são homozigotos para o alelo A2. "Destaca-se ainda o fato de a raça ser bem adaptada às condições semiáridas, o que viabiliza a produção de carne e leite em áreas sujeitas a períodos prolongados de baixo índice pluviométrico".

 

Paixão pelo Zebu

"Sempre me identificando com o campo e com o Zebu, fui cada vez mais me encantando pela pecuária de zebuínos, de modo que minhas primeiras memórias são dentro do curral ao lado de meu pai, tio e avô, vendo gado Guzerá e Nelore. Hoje toco a seleção de gado que meu avô iniciou há 64 anos, tendo um plantel fechado, com início e permanência das linhagens baianas. Não posso deixar de contar aqui, neste importante momento de minha vida, parte de um acontecimento marcante junto ao meu avô Euclides Teixeira.

 

Esse que, no dia seguinte à minha saída do hospital São Rafael, ano de 1997, após mais de 90 dias internado por conta de uma grave pneumonia, que me levou a três paradas cardíacas e quase interrompeu minha vida - ali ainda com 3 anos de idade - me levou no escritório da ABCZ, em Salvador, no bairro da Ondina, e me transferiu um título de criador nesta oportunidade.

 

Título que foi do meu tio-avô. Ele, que tinha costume de escrever, nessa ocasião, faz um texto relatando a sua felicidade em me presentear com o título e com duas novilhas e um touro da raça Guzerá vindos do plantel dele, que iniciara em 1960, com animais oriundos dos plantéis OM, Soraya e JA.

 

Desde antes e por grande influência desse episódio que me marcou, meu gosto pelo campo, por fazenda, por Zebu e, principalmente, pelo gado Guzerá só aumentou. Não à toa nossos caminhos se cruzaram e, hoje, finalizo uma etapa de minha vida com a satisfação de trabalhar com a raça de gado que me ajudou a entender melhor o mundo e me ajudou a ter mais amor pelas coisas da natureza".


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