Causo e Conto - O CAMPEÃO DERROTADO - Por Hugo Prata Voltar

                -                                                                                                            O CAMPEÃO DERROTADO
                                                                                                                                              Por Hugo Prata**

          O mais completo fazendeiro que conheci é o meu querido amigo Rui Barbosa de Sousa. Completo como pecuarista, agricultor, desportista, cristão, chefe de família, cidadão e outras coisas. Sempre procurou ser o melhor em todas as atividades. Quando universitário era o primeiro na sala de aula e no esporte. Goleador do Uberaba Sport Clube, nos bons tempos que o USC tinha time e não este amontoado de cascudos e cabeças de bagre de hoje. 
          Era um centroavante raçudo, que não tinha medo de cara feia e botinadas. Só sossegava com a bola dentro das redes. Campeão sul-americano de tiro ao prato. Jogou tênis até quase os oitenta anos, dando surras homéricas nos jovens fracotes de hoje. 
          Como criador de gir tinha uma seleção cuidadosa e destacou-se com o conhecido reprodutor Norte 15. No nelore tem um gadão raçudo e de boas carnes. Nas duas raças medalhas a granel. 
Plantando café ganhou repetidas vezes o título de o melhor produtor do Estado. Cultivando milho não se contentava com produção inferior a 10.000 quilos por hectare, e na soja o limite mínimo era 60 sacas por hectare. 
          Em tudo procurava ser sempre o melhor e levar a medalha de ouro. Brigava para chegar a frente e só baixava o facho quando Glorinha puxava o freio de mão. Com ela teve 11 filhos, todos bem criados, graças a Deus, e aos cuidados do prolífico e fecundo casal. 
          Um belo dia nosso amigo resolveu passar as férias da meninada em sua fazenda no Paraná. Lotou a Kombi com os meninos, meninas, malas, cachorros, frango com farofa, biscoitos, bolachas, farinha de mandioca, goiabada, queijo e garrafas d'água. Tudo amontoado no maior aperto e algazarra. De vez quando uma briga, puxões de cabelo, unhadas e tapas, mas fé em Deus e pé na tábua. Vamos em frente. 
          Depois de seis horas de viagem os capetinhas cansados resolveram fazer um concurso de bolas de chiclete. Quem fizesse a maior seria o campeão. E tome mastigo e tome assopro. Nesta altura do campeonato o nosso Rui já dera várias broncas e ameaças de tapas. Tinha chiclete até no teto e párabrisas e uma melecada na nuca. A algazarra era tamanha que o nosso fértil herói parou e proibiu a competição. "Ou pára ou desce. Olha o respeito uai".
          "O pai tá é com inveja, pois não consegue fazer nem bolinha", disse um dos mafiozinhos ao nosso renomado atleta. Rui deu uma risadinha e com ar superior pediu um chiclete, e começou a mastigar, assoprar e nada. E tome vaia. A boca cheia até a tampa, babando, espumando, e mais apuros. As vaias e provocações eram de monte e até de bicha foi chamado. Logo ele, grande e fecundo campeão, cevado com glórias e aplausos. Até que a Glorinha resolveu intervir em socorro ao apoplético marido, que chiava e bufava como um boi na chincha. 
          Glorinha apitou, mostrou o cartão amarelo e pôs ordem no campo. Todo mundo sentadinho, sem deboches e o nosso campeão, com a bola murcha, nocauteado, guiou sua Kombi até a fazenda. À noite, no quarto, resolveu treinar e passou horas com a boca cheia de chiclete, mastigando, babando, dizendo palavrões e assoprando. Glorinha ao lado rezava, temendo um infarto de seu campeão. 
          Vencedor e atleta, não conseguiu nem uma mixuruca bolinha, e foi com o pescoço inchado, veias estufadas e lacrirnejante que, de madrugada, sucumbiu, vencido e entregue, dando descanso à paciente consorte. Ao lado da cama um monte de chiclete mastigado. Pela primeira vez nosso herói sentiu o amargor da derrota. 
Somente muitos dias depois, nosso herói abatido, murcho de crista caída e farol baixo, veio saber a verdade. Os trombadínhas haviam lhe dado, não o chiclete de bolas, mas o Adams, que não serve para fazer bolas. Rui não conseguiu revanche, amargando até hoje a derrota. Falta um troféu em sua seleção.
                                                       
                                                                                                                 **especial para o Museu Virtual da ABCZ
            

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