Causo e Conto - A DÁDIVA NO OLHAR: UMA "PORCA CARUNCHO" - Por Eliana Kefalás Oliveira, Simone Afonso e Aryanna Sangiovani Ferreira
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- UM GOLPE DE VISTA Por Eliana Kefalás Oliveira, Simone Afonso e Aryanna Sangiovani Ferreira** Ele sempre procurava respeitar as características raciais do zebu. Nos julgamentos, Pylades analisava o animal com rapidez, parecia mais um personagem fictício, gerava suspense, provocava o público, sabia impressionar. Era quase como um espetáculo o que construía em pista, com sua varinha peculiar em mãos e o regulamento do padrão das raças zebuínas no bolso. Naquele dia, na ExpoZebu (Exposição Nacional de Gado Zebu) de Uberaba de 1970, como juiz, observava os animais que estavam desfilando na pista. Estava ali uma vaca que havia recebido no ano anterior o título de tricampeã nacional, era possivelmente a favorita. Pylades, assim que a viu, separou-a, mandando-a para cerca, reservando-a para o momento esperado. Os presentes já praticamente comemoravam a vitória daquele animal, a famosa Dádiva, nome que parecia querer reforçar um aspecto quase divino dela. Seu tamanho e seu peso sempre chamavam a atenção. Era considerada um fenômeno da raça nelore em outros estados e exposições. Parecia um presente caído dos céus, uma dádiva mesmo. Estava ela, portanto, destacada das outras, o que atraía os olhares dos espectadores. Ao separá-la, era como se Pylades lançasse um foco sobre ela, convocando os olhares de todos para a presença daquele animal vultoso, de peso. Os amigos já felicitavam seu dono, o criador Orestinho. A Dádiva seria tetracampeã. O juiz observou o contentamento do público, mas continuou absorto em seu trabalho. Momento final do espetáculo, a escolha da vencedora, o veredicto do juiz: Pylades finaliza sua fala observando que separara logo de início a Dádiva, não porque a considerava uma preciosidade do nelore, mas, segundo ele, aquela vaca grande, pesada parecia mais uma porca caruncho. A Dádiva, aos olhos de Pylades, fugia daquilo que ele considerava fundamental dentro do seu padrão de julgamento. A feminilidade daquela vaca não saltava aos seus olhos, parecia-lhe um animal com peso excessivo, o que prejudicava o equilíbrio e a harmonia do conjunto. De certa forma, portanto, Pylades questionava essa tendência dos criadores de valorizar demasiadamente o peso corporal e a estatura dos animais. Como juiz, nesse momento, bate o martelo a favor do padrão racial zebuíno de maneira ilustrativa, jocosa: compara aquele animal, aquela "Dádiva" a não mais do que uma porca caruncho! **do livro Pylades Tibery - Cenas biográficas
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