Causo e Conto - JUNTIDADE - Por João Gilberto Rodrigues da Cunha Voltar

                -                                                                                  JUNTIDADE

                                                                                             Por João Gilberto Rodrigues da Cunha**


       O povinho mais humilde aqui da roça é muito quieto e acomodado nas situações de vida. Detesta chamar a atenção, fazer barulho, incomodar, protestar, sobretudo se trata com gente importante.
       Zé Humberto atendia vinte consultas de manhã. Mais os exames, retornos, pontos a retirar, curativos a fazer, vendedores de enciclopédia Barsa e de terrenos na Vila Pele, e tavam lá quarenta pessoas cada matina.
       Os amigos, os importantes, os paulistas e os chatos sempre davam um jeito de furar a fila e adiantar o seu atendimento- O povinho de ítapagipe, de Iturama, de Conceição, das Dores e corrutelas, ia ficando manso, irmanado e paciente na espera da sua vez, sentadinhos pelos bancos da sala da frente.
       Gente pobre e humilde também não muda de lugar, e foi por isso que aquele casalzinho ficou espremidinho lá no fundo do banco, últimos no atendimento da manhã.
       Zé Humberto, cansado, abriu a porta e mandou os dois entrarem, feliz da manhã em conclusão. A dona debulhou as queixas e mazelas, e logo a Julieta colocou-a na sala de exames e ginecologia. Zé Humberto examinou-a e ficou brabo. Chamou o hominho tímido ali do lado, mostrou o estrago da infecção nas partes subalternas da ali do lado, mostrou o estrago da infecção nas partes subalternas da mulher, fez a sua pregação de higiene, limpeza, cuidados profiláticos e terapêuticos, a mulherzinha paciente na posição incômoda, e concluiu:
       - No futuro o senhor toma jeito e não deixe a sua mulher ficar neste estado, sujeira e pouca-vergonha!
       O hominho concordou com a cabeça baixa e humilde, mas achou de explicar:
       - O senhor tá certo, doutor, nós somos mesmo uns coitado, dando trabalho ao doutor Num vou deixar isso acontecer com a minha mulher, lá no Quenta-Sol. Essa tadinha aí, eu num tenho nada com ela não, ela é do Capão da Onça. Só cheguemo junto. Eu também vou consurtar, se o senhor tiver tempo...
       Pano rápido, na cena e na dona. Povinho desgraçado pra fazer confusão!



                                                                                                                          **do livro O Triângulo de Bermudas
            

CENTRO DE REFERÊNCIA DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ZEBU

Fone: +55 (34) 3319-3900

Pça Vicentino R. Cunha 110

Parque Fernando Costa

CEP: 38022-330

Uberaba - MG


©2015-2025 - Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - Todos os direitos reservados