Causo e Conto - APERTO NO TREM - Por João Gilberto Rodrigues da Cunha
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- APERTO NO TREM Por João Gilberto Rodrigues da Cunha** Jorge Turco era mascate tradicional das fazendas na linha da Mogiana, trecho Uberaba - Araguari. Embarcava suas malas cheias de fitas, agulhas, espelhos, pentes, bugigangas e quinquilharias, e ia desembarcando pela Mangabeira, Irara, Anil, todas aquelas estaçõezinhas onde tinha acesso e garantido público comprador. Chegado a Araguari, fechava as malas já desfalcadas e embarcava no pêsinho da tarde, de volta a Uberaba. O pêsinho, nome corrompido de um Pé dois burocrático qualquer, era um diurno barato, que parava a qualquer sinal na Linha, até fora de estação. Embarcavam vaqueiros, mães com filhos remelentos e amamentantes, vendedores de doce de leite e rosca, jacas de galinha, sacos de frutas, até algum bode ou carneiro que iam de presente á família em Uberaba. Naquela tarde quente, Jorge Turco só achou lugar junto de um goiano barbudo, mal encarado, dormindo recostado junto à janela fechada. Sem opção, sentou-se no lugar refugado, apertado, suado, incomodado. O trenzinho naquele balanço mole mole, calor, mosquitos, cheiro de leite azedo, gente entrando e atropelando, corredor atravancado, o enjôo foi tomando conta do Jorge. Sem coragem de incomodar o goiano e abrir a janela, a coisa ficou feia. Veio o suorzinho frio, a palidez, o engulho final - e Jorge viu que não dava tempo de correr pelo corredor. Com o vômito já na boca, voou por cima do goiano para abaixar a janela e despejou no peito do bicho uma vomitada sem defeito. O goiano acordou fungando, cheiundo, azedado e descompreendido. Jorge abanou lhe o peito com um guardanapo de papel, solidário e solícito: - Sanior malhorou, malhorou? **do livro O Triângulo de Bermudas
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