-                                                                                           NEGÓCIO ZEBUÍNO

                                                                                                             Por João Gilberto Rodrigues da Cunha**


       Badu Rocha é mascate tradicional de zebu e vendedor dos nelores criado por Torres Homem. Veterano, manhoso, valoriza e trabalha o seu negócio.
       Certa vez, levaram-lhe um desses baianos enriquecidos no cacau, vazando dinheiro pelo ladrão. O baiano gostou logo de um garrote e com duas voltas no pátio pediu-lhe o preço.
       Badu andou prá lá e pra cá, mascou, olhou pro céu, fechou a cara e mandou o tiro:
       - Esse garrote, moço, é filho neto do Karvadi. Tirei o da cabeceira do Torres. Estava reservado para um criador fino lá do Paraná. Entretanto, gostei do seu jeito e da apresentação. Sou de servir os amigos. Posso ceder-lhe o garrote por dois milhões...
       - Está certo, seu Badu. O garrote é meu. Dou-lhe o cheque hoje e mando buscar o boi na próxima semana.
       Badu pendeu o queixo. E triste:
       - Não serve. Não lhe vendo mais o boi.
       - Como não serve? Eu não estou lhe pagando à vista, o preço pedido.
       - Não serve é o jeito moço. Não posso vender um boi assim. O senhor tem que discutir, achar ruim, pedir diferença, passear o boi pra lá e pra cá, inventar uns defeitos, voltar mais tarde, brigar, insistir. Desse jeito, eu fico desmoralizado. Negócio sem tesão o Badu não faz. Vão dizer que fiquei velho, ou que vendi barato. Não serve. Não serve.


                                                                                                                              **do livro O Triângulo de Bermudas