-                                                                                                     CHEQUE BOM

                                                                                                                         Por João Gilberto Rodrigues da Cunha**

       No tempo em que os mascates de zebu dominavam a compra e venda de gado fino havia em Araxá um extraordinário representante da espécie, por nome Sebastião e por cognome Zoeira, em virtude do barulhão que cercava os seus negócios.
       Tião Zoeira era realmente feroz no seu trabalho. Audacioso, destemido, artiloso, era aparecer negócio bom que ele ficava zoando por perto que nem abelha em laranjal.
       Nenen Gomes conta seu negócio com o Tião Zoeira, que estava lhe comprando naquele dia um lote de novilhas gir para um amigo lá de Cássia.
       - Tião, vendo-lhe as novilhas pelo preço pedido, mas cuidado que meu negócio é sério, preciso receber e o pagamento é a vista.
       - Tem problema nenhum, seu Nenen. Levo o gado hoje e deixo-lhe o meu cheque. Negócio a vista é comigo mesmo!
       Tio Nenen estranhou a velocidade e desempenho pagativo do Tião, conhecido pelas embromações anteriores no mercado.
       - Cuidado, Tião. O cheque é bom?
       - Cheque brutal, seu Nenen. Na bucha. Mais quente que namoro no escuro!
       - Tá certo. Então posso por seu cheque em cobrança amanhã, que tenho promissória vencendo...
       Tião foi coçando a cabeça.
       - Bem, seu Nenen, o cheque é bom. Mas, pra evitar problemas, o senhor vai trabalhando com ele por fora aí uns quinze dias, tá certo?



                                                                                                                                                  **do livro O Triângulo de Bermudas